A cidade de Rio Branco, capital do Acre, encerrou o mês de novembro com um déficit pluviométrico significativo. Dados da Defesa Civil Municipal revelam que, enquanto a média histórica para o período é de 206,1 milímetros, o volume registrado foi de apenas 71,2 milímetros, o que equivale a aproximadamente um terço do esperado.
Contraste com outubro e alerta para dezembro
O resultado de novembro contrasta fortemente com o mês anterior. Em outubro, a capital acreana acumulou 204,6 milímetros de chuva, ficando 36% acima da média para aquele período. A expectativa agora se volta para dezembro, que tem uma previsão média de 268,4 milímetros. Mesmo que esse volume não seja totalmente alcançado, as autoridades já estão em estado de atenção.
O cenário de pouca chuva na capital, porém, não se refletiu no comportamento do principal manancial da região. O Rio Acre apresentou uma tendência oposta, com seu nível ficando acima do esperado para o início do período chuvoso.
Rio Acre em nível elevado e risco de cheia
De acordo com o tenente-coronel Cláudio Falcão, coordenador da Defesa Civil, o nível elevado do rio se deve a chuvas acima da média na bacia hidrográfica, um reflexo da influência do fenômeno La Niña. "Monitoramos constantemente o rio, as chuvas e toda a parte climática. A expectativa para dezembro é que aumente a quantidade de chuva", explicou o coordenador.
Nesta quinta-feira, o Rio Acre marcou 6,68 metros, um patamar consideravelmente acima da média histórica para esta época do ano, que costuma ficar em torno de 4,5 metros. O solo já está encharcado e começando a saturar, o que muda completamente a resposta do manancial à precipitação.
Este comportamento atípico acende o alerta para o risco de uma cheia significativa no próximo ano. A Defesa Civil considera possível que o rio atinja cotas entre 15 e 16 metros em 2026, nível suficiente para atingir até 42 bairros da capital. "Não descartamos a possibilidade de um transbordamento por volta dos 16 metros, que é o que os números mostram neste instante", afirmou Falcão.
Contexto histórico e influência climática
O comportamento do Rio Acre nos últimos meses tem sido marcado por variações. No dia 31 de outubro deste ano, o manancial ficou em 2,77 metros, o quinto maior índice dos últimos 11 anos para o período. Em agosto, chegou a 1,34 metro, apenas 11 centímetros acima da pior cota histórica, registrada em setembro do ano passado (1,23 metro).
Além do La Niña no Pacífico, que resfria as águas e altera o regime de chuvas, pesquisadores apontam a influência do Oceano Atlântico. O pesquisador climático Foster Brown destaca que eventos recentes no Acre, como queimadas distribuídas ao longo do ano, reforçam que o Atlântico tem sido um fator determinante nas variações climáticas locais.
Diante deste cenário complexo, os órgãos de monitoramento já começam a se planejar para a reunião "pré-cheia", onde será elaborado um prognóstico mais detalhado sobre o comportamento do Rio Acre na transição entre 2025 e 2026.