De geada a calorão: Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba viram termômetro maluco em uma semana
De geada a 34°C: o clima maluco no Triângulo Mineiro

Parece piada de mau gosto, mas é a pura realidade: enquanto agricultores ainda contavam os prejuízos da geada que cobriu plantações de branco há exatos sete dias, os termômetros do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba marcaram 34°C nesta segunda-feira (18). Uma montanha-russa climática que deixou até os mais antigos da região coçando a cabeça.

"Na semana passada, a gente tava tirando foto dos cafezais parecendo açúcar mascavo congelado. Hoje, dá pra fritar ovo no capô do trator", brinca o produtor rural João da Silva, de Uberaba, enquanto enxuga a testa com um lenço já encharcado. A mudança brusca — dessas que até o corpo estranha — pegou todo mundo desprevenido.

Termômetro pirou?

Segundo o meteorologista Carlos Magno, do Climatempo, essa gangorra térmica tem explicação (mas nem por isso deixa de ser assustadora):

  • Massa polar que causou a geada dissipou-se rapidamente
  • Sistema de alta pressão estacionou sobre a região
  • Umidade relativa do ar caiu para 30%, aumentando sensação térmica

"É como se a natureza tivesse apertado o botão 'turbo' do verão", compara o especialista, que trabalha há 15 anos na região. Para ele, o fenômeno chama atenção não só pela intensidade, mas pela velocidade da mudança — coisa que os modelos climáticos antigos não previam com tanta frequência.

Efeito dominó na agricultura

Enquanto crianças aproveitavam para tomar sorvete nas praças, os produtores rurais faziam contas preocupantes. A geada de 11 de agosto já tinha queimado cerca de 15% das lavouras de café na microrregião de Patrocínio. Agora, o calor precoce ameaça:

  1. Floração antecipada (e vulnerável a novas geadas)
  2. Estresse hídrico nas plantas sobreviventes
  3. Problemas no desenvolvimento dos grãos

"Tá parecendo aqueles filmes de desastre, mas em câmera lenta", comenta a engenheira agrônoma Mariana Campos, referindo-se aos prejuízos acumulativos. Ela estima que os impactos econômicos só serão mensurados em outubro, quando a próxima florada estiver consolidada.

Nas ruas de Araxá, a população dividia-se entre o alívio por deixar os casacos no armário e a desconfiança com o tempo "doido". "Minha avó dizia que quando a natureza fica assim, nervosa, é sinal pra gente repensar alguma coisa", filosofa a aposentada Dulce Pereira, 72 anos, enquanto ajusta o ventilador no máximo.

Para os próximos dias, a previsão é de que as temperaturas se mantenham elevadas, mas sem novos recordes. A Defesa Civil recomenda hidratação constante e atenção especial a idosos e crianças. Quanto às lavouras? Só o tempo — e o termômetro — dirão.