O principal sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo atingiu um patamar alarmante. Nesta segunda-feira, 1º de dezembro de 2025, o Sistema Cantareira registrou apenas 20,8% de sua capacidade total, marcando o nível mais baixo desde o período crítico da crise hídrica que assolou o estado há uma década, em 2015.
Comparativo histórico revela queda acentuada
Os dados divulgados pela Sabesp, concessionária responsável pelo sistema, mostram uma deterioração rápida da situação. Há exatamente um ano, em 1º de dezembro de 2024, o volume armazenado era mais que o dobro do atual, ficando em 45,1%. A comparação com o auge da crise anterior é ainda mais stark: na mesma data em 2015, o sistema operava com volume negativo, utilizando as chamadas "reservas técnicas" ou "volume morto", com índice de -9,70%.
Atualmente, o Cantareira é responsável pelo fornecimento de água para aproximadamente 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo, o que torna a situação atual classificada como preocupante por autoridades e especialistas.
Chuvas abaixo da média e projeções sombrias
Um dos motivos centrais para a situação crítica é o déficit de chuvas na região. De acordo com a Sabesp, em novembro de 2025 choveu 108 milímetros, enquanto a média histórica para o mês é de 151 milímetros – um déficit de cerca de um terço.
Alexandre Uezu, pesquisador e coordenador de projetos do Instituto Ipê, expressou grande preocupação com a tendência. "A gente fica dependendo muito dessas chuvas dos próximos três meses, mas a grande incerteza é justamente isso", afirmou. Ele alertou que, "se a gente continuar com esse padrão de chuva abaixo da média, a gente já vai entrar na próxima estação seca em um valor muito baixo, o que torna o risco maior ainda".
A projeção para dezembro não é animadora, com expectativa de que o padrão de pouca precipitação se repita, impactando diretamente a recarga dos reservatórios.
Medidas em curso e impactos econômicos
Diante do cenário, a Agência Nacional de Águas (ANA) informou que, a partir de 28 de novembro, o Sistema Cantareira continuará operando na "faixa de restrição". Nessa modalidade, a Sabesp tem autorização para captar até 23 metros cúbicos por segundo do Cantareira, além de poder usar mais 7,6 metros cúbicos por segundo da represa Jaguari, em Igaratá, que está interligada ao sistema.
Além das ações de contenção de consumo, pesquisadores como Alexandre Uezu defendem intervenções mais profundas. "A gente precisa pensar em tratar melhor o Sistema Cantareira... melhorar o uso do solo, restaurar as áreas de preservação permanente", argumenta, destacando a necessidade de aumentar a resiliência do manancial frente às oscilações climáticas.
A seca também já afeta a economia local, especialmente o turismo náutico na região de Bragança Paulista. Sidney Trindade, dono de uma marina, relatou ao g1 que o nível "vem baixando dia a dia" e que a esperança agora está na chuva. "A gente esperava bem mais chuva, como a média, mas não foi suficiente", disse, ressaltando que a atividade sustenta dezenas de famílias da região.
O governo do estado de São Paulo informou que monitora diariamente a situação e que tem adotado medidas estruturantes e emergenciais para enfrentar o período de chuvas abaixo da média registrado em 2024. A previsão para a região nesta terça-feira, 2 de dezembro, é de chuva, mas com volumes que não devem ser significativos para reverter o quadro atual.