Um estudo científico recém-divulgado está causando impacto nas discussões da COP30 em Belém ao revelar que o atraso na implementação do net zero pode condenar o planeta a séculos de ondas de calor extremas. A pesquisa demonstra que mesmo alcançando as emissões líquidas zero, as temperaturas elevadas persistirão por pelo menos mil anos.
Impacto irreversível das emissões
Conduzido por cientistas do ARC Centre of Excellence for 21st Century Weather e da CSIRO, o estudo desmonta a narrativa política que trata o net zero como uma solução imediata para a crise climática. As simulações, que se estendem por mil anos no futuro, mostram que as ondas de calor não retornarão aos níveis pré-industriais mesmo após a completa eliminação das emissões líquidas.
Sarah Perkins-Kirkpatrick, coordenadora da pesquisa pela Australian National University, é categórica: "Estamos condenados a impactos severos mesmo com o net zero, mas ficamos simplesmente arrasados se o adiarmos". A declaração ressoa nos corredores tensos da conferência climática em Belém, onde se discute o futuro energético do planeta.
O custo do adiamento para países tropicais
Os modelos climáticos revelam que cada cinco anos de atraso na implementação do net zero entre 2030 e 2060 intensifica significativamente a frequência, extensão e violência das ondas de calor. Para nações tropicais como o Brasil, que ocupa posição central na COP30, um adiamento até 2050 significaria quebras de recordes de calor praticamente anuais.
Este cenário catastrófico afetaria múltiplas dimensões da sociedade:
- Aumento da mortalidade urbana durante episódios de calor extremo
- Queda drástica na produtividade agrícola
- Colapso de sistemas de energia sobrecarregados pelo consumo
- Pressão sobre recursos hídricos já escassos
Pressão sobre as negociações da COP30
A pesquisa, publicada na revista Environmental Research Climate, chega em momento crucial das negociações. O estudo fortalece o argumento de delegações africanas e latino-americanas que alertam sobre eventos extremos já ultrapassando a capacidade de adaptação de populações vulneráveis.
Enquanto negociadores em Belém tentam construir um texto final que concilie ambição climática com pressões econômicas, o estudo australiano redefine os termos do debate. A questão deixou de ser se devemos acelerar a transição energética, mas quanto sofrimento adicional será aceito por cada ano de atraso.
O trabalho também expõe contradições no discurso de países que argumentam custos econômicos da transição, mostrando que os custos da inação são incalculavelmente maiores. Especialistas presentes na COP30 afirmam que a pesquisa reforça a necessidade de tratar adaptação e financiamento climático como agendas tão urgentes quanto a mitigação.