COP30 chega ao fim com avanços modestos, mas sem roteiro claro
A Conferência do Clima da ONU, a COP30, encerrou suas atividades em Belém com um sentimento misto de realização e frustração. O evento, que transformou a capital paraense no epicentro das discussões climáticas globais, aprovou importantes acordos, mas deixou pendente a definição do chamado 'mapa do caminho' para o futuro do planeta.
Desde o anúncio de Belém como sede, a expectativa era grande. Ao desembarcar na cidade no dia 5 de novembro, os participantes eram imediatamente recebidos com a mensagem: "Bem-vindo à COP30, a COP da floresta". O calor de 32°C que marcou a chegada não era exceção - no ano anterior, Belém havia sido a capital brasileira com mais dias de extremos de calor: 212 dias registrados.
Multiculturalismo e calor na Blue Zone
Dentro da blue zone, o espaço oficial das negociações, a umidade e temperatura altas transformaram o leque em acessório disputado. Apesar das dificuldades em alcançar consenso entre quase 200 países e da presença de lobistas de diversos interesses, o valor do multilateralismo se fez presente através da diversidade de participantes comprometidos com soluções para o planeta.
O corredor central era um verdadeiro mosaico cultural, reunindo línguas, trajes tradicionais e cocares de diversas nações. Os participantes puderam experimentar desde comida da Indonésia até karaokê no pavilhão da Suíça, enquanto ganhavam leques da Costa do Marfim e se encantavam com a alegria contagiante dos moradores das ilhas do Pacífico.
Belém abraça a COP30 com orgulho paraense
Nas ruas da cidade, a COP30 se tornou parte do cotidiano. "Feliz COP30" era o cumprimento que ecoava por todos os cantos, assim como "feliz Círio" e "feliz Natal" em outras épocas. O paraense demonstrou alegria, orgulho e pertencimento durante todo o evento.
Pontos turísticos como a Estação das Docas, o recém-inaugurado Porto Futuro 2 e o revitalizado Mercado de São Brás ficaram lotados diariamente. Formavam-se filas para fotos nos totens que faziam referência ao evento, demonstrando o engajamento da população local.
Esse orgulho inicialmente parecia exagerado, quando qualquer crítica era rebatida com uma avalanche virtual de reclamações. Mas, como destacaram os organizadores, os últimos meses não foram fáceis para a cidade, que constantemente via sua capacidade de sediar um evento deste porte sendo questionada.
Desafios superados e marco na participação popular
Apesar dos problemas, como a crise real de sobrepreços na hospedagem que ameaçou o quórum das decisões, Belém entregou o que prometeu. Não houve caos no transporte ou alimentação como se especulava, e a segurança funcionou adequadamente, mesmo com incidentes como a invasão de manifestantes e um incêndio no Parque da Cidade.
Um marco incontestável da COP30 foi a participação popular. Indígenas, ribeirinhos, quilombolas e movimentos sociais marcharam juntos pelas ruas de asfalto e pelas águas do Rio Guamá, na histórica barqueata que abriu a Cúpula dos Povos.
Essa pressão popular teve efeitos concretos: o documento final sobre transição justa reafirmou a importância do consentimento dos povos indígenas em decisões que os afetem diretamente.
Resultados modestos, mas reais
O resultado final deixou a desejar em termos de ambição climática, especialmente pela ausência de menção à redução de combustíveis fósseis e definição clara sobre a origem do financiamento para países pobres. No entanto, considerando um mundo onde tensões políticas colocam à prova as bases do multilateralismo, conseguir fechar um consenso já representa um progresso modesto, mas real.
No fim de semana de despedida, o clima era de nostalgia. "Vamos ficar órfãos da COP", brincou uma atendente enquanto servia tapioca. A atriz Dira Paes resumiu o sentimento: "Nós conhecemos o Brasil, o Brasil que não nos conhece". Agora o país conhece o carimbó, a aparelhagem, o tacacá e a imensidão dos rios paraenses.
E para fechar com chave de ouro um ano histórico para o Pará: depois de 32 anos, o Remo voltou para a Série A do campeonato brasileiro.