O governo brasileiro divulgou nesta sexta-feira (21) o rascunho do acordo final da COP30, gerando forte reação entre organizações ambientais, especialistas e governos que defendiam metas mais ambiciosas para o combate às mudanças climáticas.
Ausência de roteiro para combustíveis fósseis
A versão apresentada do chamado "Pacote de Belém" não faz qualquer menção ao "mapa do caminho" - um roteiro claro para reduzir a dependência global dos combustíveis fósseis. Desde o início da cúpula, o governo brasileiro articulava a criação de um "mutirão global" que incluísse este planejamento, mas o tema nunca chegou a entrar oficialmente na agenda da conferência devido à resistência de alguns blocos de países.
Os rascunhos, ou drafts, representam versões intermediárias dos textos oficiais, produzidas conforme as discussões avançam nas negociações climáticas. Ainda na noite de quinta-feira (20), mais de 30 países já haviam se manifestado publicamente, pressionando a Presidência da COP30 ao afirmar que não apoiariam um texto final que deixasse de fora um plano de transição global para abandonar os combustíveis fósseis.
Críticas de organizações ambientais
O Observatório do Clima classificou o "Pacote de Belém" como "desequilibrado e com furos inaceitáveis", criticando especialmente a ausência de um roteiro para abandonar os combustíveis fósseis. A entidade reconheceu alguns avanços, como o triplo financiamento para adaptação e a criação de um mecanismo de transição justa, mas alertou que as causas fundamentais da crise climática foram ignoradas.
Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil, foi ainda mais contundente em sua avaliação: "As metas de emissão para 2035 estão muito aquém do esperado e o texto da Decisão Mutirão é praticamente inútil". Ela afirmou que o documento contribui muito pouco para reduzir a lacuna de ambição de 1,5°C e para pressionar os países a acelerarem suas ações climáticas.
Posicionamento de especialistas
Caio Victor Vieira, especialista em Políticas Climáticas do Instituto Talanoa, analisou que, apesar de "balanceado", o texto sofreu perdas importantes de linguagem e ambição, principalmente em relação aos combustíveis fósseis. "Infelizmente não possui mais ali uma linguagem sobre o abandono dos combustíveis fósseis, mas sim diversas considerações sobre como é importante impulsionar e implementar mais rápido projetos de economia de energia limpa renovável", explicou.
Já Natalie Unterstell, presidente da mesma organização, foi direta ao chamar o rascunho de "fraco e vago". Ela afirmou que o texto do Mutirão cria "salas de espera" para temas centrais como transição, financiamento e adaptação, sem oferecer soluções concretas.
A Iniciativa do Tratado sobre Combustíveis Fósseis também se manifestou criticamente, destacando que as medidas propostas pelo rascunho são insuficientes considerando o impacto que as mudanças climáticas já exercem sobre milhões de pessoas em todo o mundo. Kumi Naidoo, presidente do movimento, ressaltou que "a falta de um plano concreto para lidar com a produção de carvão, petróleo e gás só aumenta a urgência de um Tratado sobre Combustíveis Fósseis".
Pressão internacional crescente
O documento assinado por países como Colômbia, França, Reino Unido e Alemanha deixa claro o descontentamento com a direção das negociações: "Não podemos apoiar um resultado que não inclua um mapa do caminho justo, ordenado e equitativo para deixar os combustíveis fósseis para trás".
Com as críticas se intensificando e o prazo para um acordo final se aproximando, a Presidência da COP30 enfrenta pressão crescente para revisar substancialmente o texto antes da conclusão oficial da cúpula climática.