COP30: Lula tenta destravar impasse entre ricos e vulneráveis em Belém
COP30: Lula busca acordo entre ricos e vulneráveis

Lula retorna a Belém em busca de acordo climático

O presidente Lula voltou à COP30 em Belém nesta quarta-feira, 19 de novembro de 2025, renovando as esperanças das delegações africanas para um possível avanço nas negociações sobre adaptação climática. Os 54 países do continente africano avaliam que o Brasil pode assumir um papel mais flexível e articulador para viabilizar a apresentação de 100 metas de adaptação ainda durante esta conferência.

Disputa financeira trava negociações

Enquanto tenta ampliar sua influência no debate sobre o novo fundo climático, o governo brasileiro enfrenta críticas de ambientalistas por não se posicionar claramente sobre a expansão dos combustíveis fósseis. As discussões sobre reduzir o uso desses combustíveis seguem paralisadas, abrindo espaço para que a adaptação, historicamente relegada a segundo plano, se torne o novo eixo crítico das negociações multilaterais.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, participou ativamente dos debates, inclusive conversando com representantes indígenas durante o evento. A mudança de foco reflete um diagnóstico alarmante: o planeta caminha para um aquecimento bem acima do limite de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris.

Cenário climático preocupante

As projeções atuais variam de 2,4°C, caso os planos nacionais sejam cumpridos, até quase 3°C se as políticas atuais forem mantidas. Neste cenário mais hostil, adaptar sociedades a extremos climáticos deixou de ser opção e passou a ser urgência imediata.

Os números revelam a dimensão do desafio: países em desenvolvimento precisarão de até US$ 365 bilhões anuais até 2035 apenas para projetos de adaptação, segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O compromisso firmado quatro anos atrás, de US$ 40 bilhões por ano até 2025, é hoje visto como insuficiente e obsoleto.

Fundos privados e filantrópicos ampliaram aportes recentemente, mas o volume segue irrisório diante da demanda real. As negociações em Belém tentam definir uma lista de cerca de 100 indicadores para medir progresso em adaptação, passo essencial para direcionar investimentos, mas as conversas emperraram na segunda semana da conferência.

Desigualdade climática se aprofunda

Nações mais vulneráveis temem que metas técnicas sem financiamento adequado se convertam em mera formalidade burocrática. A dificuldade decorre de um contraste estrutural: reduzir emissões é, em muitos casos, mais barato do que proteger populações expostas a desastres climáticos.

Tecnologias de baixo carbono já se tornaram competitivas, enquanto obras de adaptação, como sistemas de drenagem, geram pouco retorno financeiro direto, o que afasta investidores privados. Este desequilíbrio se agravou com cortes orçamentários recentes em cooperação internacional.

O resultado é um vácuo que tende a aumentar a desigualdade climática: os impactos mais severos recaem sobre regiões que historicamente menos contribuíram para o problema, como a África. Especialistas alertam que a insistência em dissociar adaptação de mitigação cria falsa sensação de segurança.

Limiar crítico e consequências

Estudos mostram que o limiar de 1,5°C não é apenas simbólico: acima dele, cresce o potencial de colapso de ecossistemas, perdas econômicas e deslocamentos humanos em massa. A cada décimo de grau adicional, os riscos escalam significativamente.

Sem cortes profundos nas emissões, qualquer estratégia adaptativa tende a se tornar insuficiente. A COP30 revela assim um dilema central: preparar-se para um futuro mais perigoso exige recursos em escala inédita, ao mesmo tempo em que o mundo ainda falha em atacar a causa fundamental do problema.

Belém escancara que, sem cooperação internacional reforçada e novos fluxos financeiros, nem mesmo as soluções de curto prazo são capazes de conter a velocidade acelerada da crise climática global.