A COP30 em Belém terminou sem um plano concreto para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, mantendo um impasse que persiste há quase três décadas de conferências climáticas. A exclusão ocorreu apesar do reconhecimento histórico feito na COP28 em Dubai sobre a necessidade de abandonar petróleo, carvão e gás.
Divisão entre países bloqueia acordo
Os anfitriões brasileiros chegaram a considerar incluir um roteiro para redução de combustíveis fósseis na agenda oficial, mas o tema ficou de fora do documento final. Cerca de 30 países da Europa, África, América Latina e pequenos Estados insulares formaram uma coalizão liderada pela Colômbia, ameaçando bloquear o acordo caso a menção aos combustíveis fósseis não entrasse no texto.
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, defendeu em sessão plenária que "esta não pode ser uma agenda que nos divida. Precisamos chegar a um acordo entre nós".
Pressão da indústria e países produtores
O relatório da coalizão Kick Big Polluters Out revela que um em cada 25 participantes em Belém representa a indústria de combustíveis fósseis. Esses enviados superam em número as delegações de todos os países, exceto o Brasil, e têm dois terços a mais de credenciais que os dez países mais vulneráveis às mudanças climáticas juntos.
Estima-se que cerca de 70 países se opuseriam a qualquer decisão da COP30 abordando combustíveis fósseis, com forte resistência de nações produtoras como Arábia Saudita e Irã.
Posicionamento do Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que enfrenta críticas por aprovar projeto de exploração de petróleo na foz do Amazonas - defendeu publicamente um cronograma para eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Em seu "Apelo de Belém pelo Clima", Lula pediu maior apoio financeiro aos países em desenvolvimento.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apoiou a pressão diplomática por um roteiro, argumentando que ele "estabelece as bases para uma transição justa e planejada".
Consequências e próximos passos
Kumi Naidoo, presidente da Iniciativa do Tratado sobre Combustíveis Fósseis, criticou o rascunho final: "A falta de um plano concreto só aumenta a urgência de um Tratado. Não podemos esperar mais um ano por outro sinal político fraco".
O financiamento público de combustíveis fósseis aumentou 75 bilhões de dólares por ano desde 2014, chegando a 1,6 trilhão de dólares anuais, segundo pesquisas recentes.
Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam, alertou que avanços em outras questões da COP30 "só podem ser comemorados se também houver progresso na eliminação gradual dos combustíveis fósseis".