COP30: Brasil busca consenso em meio a tensões na agenda climática
Brasil negocia avanços na COP30 em cenário desfavorável

A embaixadora Liliam Chagas, principal negociadora do Brasil na COP30, enfrenta o desafio de fazer a agenda climática avançar em um contexto internacional desfavorável. Em entrevista exclusiva, ela detalhou os esforços para construir consenso em meio a tensões sobre temas cruciais como financiamento e adaptação às mudanças climáticas.

Panorama global desafiador

A conferência climática ocorre em um momento de turbulência geopolítica significativa. A Europa direciona seus orçamentos para defesa continental devido à guerra na Ucrânia, enquanto os Estados Unidos se recusam a participar das negociações por determinação do presidente Donald Trump.

O cenário se complica ainda mais com as divergências entre nações em desenvolvimento. Alguns países africanos, por exemplo, defendem o adiamento por dois anos das decisões mandatórias sobre parâmetros de adaptação, conhecidos como GGA's.

Vitória estratégica brasileira

O Brasil já conseguiu uma importante vitória nas negociações iniciais. Os temas mais controversos foram destacados da pauta principal para evitar que monopolizassem os primeiros dias do encontro. Essas questões estão sendo tratadas em consultas à presidência da COP30.

Segundo Liliam Chagas, já foram realizadas sete horas de conversas sobre quatro pontos críticos: processo de financiamento, metas de emissão, relatórios de transparência e assuntos de comércio. As discussões começam a migrar para um encontro de ideias mais produtivo.

Busca por consenso

A embaixadora destacou que a agenda da COP é multilateral e que o Brasil trabalha para avançar de forma equilibrada. As partes são instadas a apresentar soluções intermediárias que possibilitem o diálogo sobre essas questões complexas.

O ambiente das negociações tem sido construtivo, com os países demonstrando flexibilidade e não se enclausurando em posições extremadas. A possibilidade de uma "decisão de capa" - um conjunto de decisões finais que endereçam os próximos passos - foi proposta por algumas nações, mas essa é uma decisão que precisa ser coletiva.

Indicadores voluntários em discussão

Sobre a postura dos países africanos, Liliam explicou que os indicadores de adaptação provavelmente serão definidos como voluntários, não como obrigação firme. Até 100 indicadores estão sendo criados para que os países possam medir seu progresso no combate ao aquecimento global.

Esta COP tem um mandato específico para avançar no programa de trabalho de transição justa e definir esses indicadores. Qualquer decisão para postergar ou mudar esse mandato precisa ser negociada entre todas as partes.

A negociadora brasileira mantém o otimismo, afirmando que é normal que as discussões avancem e recuem no início dos trabalhos. "As pessoas veem o que é possível alcançar de uma forma diferente. Mas, normalmente, se consegue chegar a um ponto que serve para todo mundo", concluiu.