Pela primeira vez na história da entomologia, pesquisadores capturaram em vídeo o exato momento em que formigas operárias são enganadas por uma parasita para matar sua própria rainha. O estudo revolucionário, publicado na revista Current Biology em 21 de novembro de 2025, documenta uma das formas mais sofisticadas de parasitismo social no mundo animal.
O golpe químico perfeito
Tudo começa quando uma rainha invasora das espécies Lasius orientalis ou L. umbratus se aproxima do formigueiro alvo. A intrusa não entra diretamente, mas primeiro localiza operárias do lado de fora e esfrega seu corpo contra elas. Dessa forma, ela absorve o odor químico da colônia, que funciona como uma senha de identificação.
Com essa camuflagem química perfeita, a parasita consegue entrar no ninho sem ser detectada como invasora. Mas sua missão principal está apenas começando.
O assassinato da rainha legítima
Dentro da colônia, a rainha parasita vai direto ao alvo: a rainha residente. Em vez de um confronto físico com mordidas, ela usa uma arma muito mais sutil e eficaz. Através do acidóporo - estrutura normalmente usada para defesa - a invasora pulveriza pequenas rajadas de um fluido químico sobre a rainha legítima.
Os cientistas acreditam que a substância seja ácido fórmico, mas com um efeito surpreendente: não fere fisicamente a rainha, mas altera completamente seu cheiro. A matriarca passa a emitir um odor estranho e desagradável para suas próprias filhas operárias.
Considerando que toda a organização social das formigas depende de sinais químicos para reconhecer aliados, inimigos e sua liderança, bastaram alguns segundos para que as operárias tratassem sua mãe como uma invasora perigosa.
O destino da colônia após o golpe
Imediatamente após a alteração do odor, as operárias avançam em grupo e executam sua própria rainha. Enquanto isso, a parasita inteligentemente se afasta para não ser confundida com o alvo. Após o ataque, ela retorna ao centro do ninho e assume o controle absoluto.
Com a antiga líder eliminada, a invasora começa a colocar seus próprios ovos. As operárias, agora completamente enganadas, passam a cuidar dos descendentes da parasita e a manter a colônia funcionando normalmente, sem perceber que estão servindo a uma impostora.
Este episódio documentado representa um exemplo claro de parasitismo social, onde uma espécie aproveita a estrutura social de outra para iniciar sua própria linhagem. Segundo os autores do estudo, a gravação ajuda a explicar como esse tipo de tomada de poder acontece: não pela força bruta, mas pela manipulação química - o ponto central da vida social desses insetos fascinantes.