Brasileiros enfrentam -60°C em missão científica carbono neutro na Antártica
Missão brasileira carbono neutro na Antártica com -60°C

Três pesquisadores brasileiros estão fazendo história na Antártica ao participar da primeira missão científica com carbono neutro realizada no continente gelado. A expedição, que começou em 6 de novembro e deve se estender até 23 de dezembro, enfrenta condições extremas que incluem sensação térmica de -60°C e sol constante durante 24 horas por dia.

Desafios extremos no continente gelado

O engenheiro ambiental Gabriel Estevam Domingos, de 38 anos, diretor de inovação da Ambipar e professor em Cubatão (SP), compartilha os desafios da missão. "Temos que literalmente sobreviver a uma sensação térmica de -60°C, com temperatura em torno de -20°C", revela Domingos.

As condições extremas transformam até os objetos mais comuns: "É tudo muito difícil. Tudo congela, pasta de dente, remédios, até o óleo que usamos para cozinhar. O problema é ficar todos esses dias sem banho", brinca o pesquisador.

A equipe é composta ainda por Heitor Evangelista, geofísico da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do Criosfera 1, e Heber Passos, técnico sênior de laboratório eletrônico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Jornada complexa até o coração da Antártica

Chegar ao destino exigiu um esforço logístico significativo. Os pesquisadores contaram com apoio de um navio da Marinha do Brasil e quatro voos, incluindo um avião adaptado para o gelo que só conseguiu pousar após oito tentativas.

Domingos explica a dimensão do isolamento: "Uma ideia do quanto avançamos da margem da Antártica para o centro, é como se fosse a distância do Pará até São Paulo, em uma das áreas mais inóspitas do planeta, onde poucas pessoas conseguiram chegar".

Pioneirismo em sustentabilidade

A missão marca um marco importante para a pesquisa científica sustentável. Um estudo detalhado calculou as emissões de gases de efeito estufa em todas as etapas da expedição, desde o transporte até insumos e alimentação durante a permanência na Antártica.

Os dados passaram por dupla checagem da Associação Brasileira de Normas Técnicas, garantindo a precisão das medições. A neutralização do carbono está sendo realizada através de duas frentes:

  • Plantio de árvores nativas pela ONG Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua)
  • Aquisição de créditos de carbono de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) via plataforma Ambify

Além do carbono neutro, a equipe comemorou outro marco tecnológico: a instalação de internet no local pela primeira vez na quarta-feira, 26 de novembro.

Importância científica global

Instalado em 2012, o Criosfera 1 transmite em tempo real dados essenciais para compreender fenômenos climáticos globais. As informações coletadas ajudam a monitorar:

  • Derretimento do gelo polar
  • Dinâmica das massas de ar que afetam o clima no Brasil
  • Circulação de aerossóis por ciclones
  • Aumento do nível do mar na Baixada Santista

Na missão atual, os objetivos incluem a manutenção completa do módulo, troca de sensores climáticos e turbinas eólicas, garantindo a continuidade do monitoramento ambiental em uma das regiões mais sensíveis às mudanças climáticas.

A expedição também está instalando novos equipamentos, incluindo um medidor de carbono para monitorar grandes queimadas globais e um fotômetro da NASA que avalia a coluna atmosférica.

"Eu estou operando o equipamento da NASA que mede vários comprimentos de onda da radiação solar e também instalando uma estufa que desenvolvi. Esta missão irá garantir a funcionalidade de todos os equipamentos para transmissão em tempo real pelos próximos anos", destaca Domingos.

O pesquisador finaliza enfatizando a relevância do trabalho: "Nós estamos falando de uma das áreas mais importantes no contexto climático", reforçando o papel crucial da Antártica no equilíbrio ambiental do planeta.