Mentes Geniais: Neurocientista explora criatividade cerebral através da arte
Livro revela conexão entre cérebro humano e criatividade artística

Arte como expressão máxima do cérebro humano

O neurocirurgião mexicano Mario de la Piedra Walter acaba de lançar pela editora Todavia o livro Mentes Geniais, uma obra que estabelece pontes fascinantes entre a neurociência e o mundo das artes. Com 256 páginas, o trabalho foi atualizado em 26 de novembro de 2025 e oferece uma jornada única pelo funcionamento criativo do cérebro humano.

Uma galeria de gênios através das lentes da neurociência

O autor conduz os leitores por um verdadeiro museu cognitivo, onde grandes nomes da arte e da ciência se encontram em páginas repletas de descobertas. Na mesma obra, encontramos o escritor russo Fiodor Dostoiévski, criador de clássicos como Os Irmãos Karamázov, e o médico espanhol Santiago Ramón y Cajal, pioneiro na descoberta dos neurônios.

Walter, que atualmente reside na Alemanha, traça um percurso que vai desde as pinturas rupestres feitas por nossos ancestrais até os desafios contemporâneos da inteligência artificial. Sua narrativa didática e envolvente explora os circuitos cerebrais relacionados à memória, aos sonhos, às doenças mentais e às condições neurológicas.

Sinestesia: quando os sentidos se misturam

Um dos temas mais fascinantes abordados no livro é a sinestesia, fenômeno neurológico onde o estímulo de um sentido ativa outro sentido simultaneamente. O autor explica com clareza como artistas como Vassili Kandinski e Franz Liszt utilizaram essa capacidade única para revolucionar a pintura e a música, respectivamente.

"Indivíduos com essa capacidade podem literalmente ver a música ou escutar as cores", destaca Walter. O neurocirurgião descreve como a sinestesia ocorre devido a uma hiperconectividade cerebral, onde pontes neurais persistentes facilitam a associação entre sentidos diferentes.

O mais reconfortante, segundo o autor, é que todos nós possuímos em maior ou menor medida a capacidade de criar novas conexões nervosas através da neuroplasticidade. A sinestesia, embora mais evidente em alguns artistas, é a base de toda metáfora que utilizamos no dia a dia.

Neurodiversidade e o mito do "gênio louvo"

Questionado sobre a relação entre transtornos mentais e genialidade criativa, Walter adota uma perspectiva moderna e inclusiva. "Não gosto de falar em cérebros normais e anormais", afirma o especialista, defendendo o conceito de neurodiversidade como algo tão crucial para a sociedade quanto a biodiversidade é para um ecossistema.

O autor ressalta que o que verdadeiramente une todos os gênios criativos retratados em seu livro, independentemente de suas condições neurológicas, é a disciplina. "A inspiração te encontra enquanto você está trabalhando", sintetiza Walter, desmistificando a ideia romântica do artista que depende apenas de momentos de iluminação.

Desafios digitais e o futuro do cérebro criativo

O livro também aborda os impactos da tecnologia no desenvolvimento cerebral. Walter cita um estudo da Universidade de Valência que envolveu mais de 470 mil participantes ao longo de 20 anos, demonstrando que a leitura em papel pode aumentar a compreensão entre seis e oito vezes mais que a leitura digital.

Da mesma forma, pesquisas indicam que ferramentas de IA como o ChatGPT podem diminuir nossa capacidade de raciocínio e pensamento crítico. No entanto, o autor adota uma visão equilibrada, lembrando que cada avanço tecnológico na história foi inicialmente criticado, desde a escrita na época de Sócrates até a fotografia.

"Não creio que isso tudo seja um problema tecnológico, senão político", alerta Walter. "Me preocupo mais com quem é dono dessa informação toda e quem pode manipulá-la, especialmente se vai utilizá-la para perpetuar hierarquias de poder."

A leitura como ponte entre mentes e épocas

Em um mundo onde se lê cada vez menos, o neurocirurgião defende a importância fundamental da leitura para a compreensão humana. Através dos neurônios espelho, somos capazes de encarnar as experiências, angústias e alegrias de outras pessoas, criando uma conexão profunda com a humanidade.

Walter lembra as palavras de Carl Sagan, que comparava a leitura à magia, pois através de um objeto físico podemos acessar o pensamento de alguém que viveu séculos atrás. No entanto, o autor também oferece uma reflexão surpreendente: "Não compro a ideia de que o mundo está cada vez mais individualista. Individualistas são aqueles que controlam o mundo."

O livro Mentes Geniais se encerra com os desenhos pioneiros dos neurônios feitos por Ramón Cajal, cientista que recebeu o Prêmio Nobel por suas contribuições. Uma conclusão simbólica para uma obra que celebra a união entre ciência e arte, demonstrando como o estudo do cérebro pode iluminar nossa compreensão sobre a criatividade humana em toda sua complexidade e beleza.