Quando observamos alguém sendo tocado, nosso cérebro inicia imediatamente um processo complexo de interpretação que combina elementos sensoriais e emocionais. É o que revela uma pesquisa australiana que mapeou, pela primeira vez com precisão de milissegundos, como transformamos a simples visão de um toque em uma experiência rica de significado.
O experimento que decifrou a velocidade cerebral
Os pesquisadores utilizaram a tecnologia de eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade cerebral de voluntários enquanto assistiam a vídeos curtíssimos. As cenas mostravam diferentes tipos de toque sendo aplicados em uma mão: um pincel deslizando suavemente, um dedo pressionando a pele ou a ponta de uma faca encostando.
O EEG permitiu captar sinais elétricos cerebrais em intervalos extremamente precisos, revelando um cronograma detalhado do processamento neural. Algoritmos especializados analisaram depois esses sinais para identificar qual tipo de toque o cérebro estava registrando em cada momento.
Linha do tempo do processamento cerebral
Os resultados, publicados em 24 de novembro de 2025, mostram uma sequência impressionante de eventos neurológicos:
Em apenas 60 milissegundos, o cérebro já havia identificado informações fundamentais: quem estava sendo tocado, se a mão parecia pertencer ao observador (como em uma cena em primeira pessoa) ou a outra pessoa, e até mesmo se era uma mão esquerda ou direita.
Por volta de 110 milissegundos após a visualização, o cérebro começava a processar como o toque "deveria" parecer na pele - se seria um deslizamento suave ou uma pontada dolorosa, por exemplo.
Approximadamente 260 milissegundos depois do início do estímulo visual, surgiam sinais cerebrais ligados ao aspecto emocional: se o toque parecia calmante, ameaçador ou dolorido.
Implicações para a compreensão da empatia
Os pesquisadores australianos sugerem que essa resposta cerebral ultrarrápida indica que o cérebro realiza uma espécie de simulação temporária do que está observando. Ele tenta adivinhar como o toque seria no próprio corpo, criando um "rascunho" interno da experiência alheia.
Esse mecanismo pode ser uma das bases neurológicas da empatia. É por isso que algumas pessoas estremecem ao ver alguém se machucar, enquanto outras não sentem nada. Há inclusive indivíduos que experimentam sensações físicas reais - como formigamento, pressão ou até dor - ao observar outra pessoa sendo tocada, um fenômeno conhecido como "toque vicário".
O estudo ajuda a explicar por que essas reações podem acontecer tão rapidamente e de forma tão intensa para algumas pessoas. Os pesquisadores agora planejam comparar essas respostas cerebrais entre quem sente o toque vicário e quem não sente nada, buscando entender melhor as variações individuais.
A longo prazo, compreender como o cérebro interpreta o toque apenas pela visão pode ter aplicações práticas significativas: desde o desenvolvimento de terapias que utilizam consciência corporal até a criação de ambientes digitais mais realistas, como simuladores e experiências de realidade virtual que replicam com maior precisão as sensações táteis.