Artesã cria aplique biodegradável de fibra de bananeira em Campo Grande
Aplique biodegradável de fibra de bananeira criado em MS

Uma descoberta casual no quintal de casa em Campo Grande transformou a vida da cabeleireira e artesã Marilza Eleoterio de Barcelos Silva. Com uma faca sem fio, um tronco de bananeira e muita criatividade, ela desenvolveu um produto único: apliques de cabelo biodegradáveis feitos com fibras do caule da bananeira.

Da bananeira ao aplique sustentável

Todo o processo de produção acontece na casa de Marilza, localizada na Comunidade Lagoa Parque, em Campo Grande. Desde a extração da fibra até a coloração final, a empreendedora realiza todas as etapas em seu próprio quintal. O negócio atende a uma demanda crescente no setor de beleza brasileiro, oferecendo uma alternativa sustentável e mais acessível aos fios sintéticos tradicionais.

Após diversos testes e experiências, a artesã conseguiu patentear o produto em 2023. "Patenteei até para garantir. Uma mulher viu e me falou que já tinham registrado antes. Mas, esta pessoa que ela se referia era eu mesma", revelou Marilza com bom humor.

Uma jornada de superação e inovação

A história por trás do desenvolvimento do fio vegetal começou em 2018, quando Marilza buscava criar uma peruca acessível para uma amiga diagnosticada com câncer. Inicialmente, ela experimentou com sisal e taboa, mas os resultados não foram satisfatórios, levando-a a interromper as pesquisas.

Em 2021, após se recuperar de um problema cardíaco, a artesã retomou os estudos. O processo se tornou uma terapia que a motivava a sair da cama. Foi ao cortar um cacho de banana que ela percebeu algo extraordinário: o caule, quando raspado, liberava fibras semelhantes às usadas em cabelos sintéticos.

O grande avanço veio com a descoberta de um ingrediente secreto - uma fruta do Cerrado - que permitiu alcançar o resultado desejado após várias tentativas frustradas com produtos químicos.

Crescimento e reconhecimento internacional

Com o apoio do Sebrae MS, Marilza recebeu orientação para expandir seu negócio. Um prêmio conquistado permitiu a compra de máquinas adaptadas que aumentaram significativamente sua produção. De apenas 100g por dia no início, hoje ela produz cerca de 2kg de fios em apenas seis horas de trabalho.

O produto já conquistou interesse internacional, com mensagens recebidas de Angola e Itália. Por ser um artesanato, o aplique de fibra de bananeira pode ser comercializado normalmente no Brasil, enquadrando-se na categoria de fio para tranças que não requer autorização da Anvisa.

Para exportar, no entanto, é necessária uma autorização específica, e a empreendedora já iniciou o processo para liberar as vendas internacionais.

A produção segue os princípios da economia circular, criando um ciclo onde o produto final pode ser reutilizado e causa menos impactos ambientais. "Além de ser algo mais fácil de conseguir, é também mais fácil de descartar. Acaba sendo bom também para natureza", conclui Marilza, orgulhosa de sua contribuição para um mundo mais sustentável.