A Polícia Civil de Roraima investiga o assassinato de dois garimpeiros em uma região de difícil acesso no interior do estado. As vítimas foram identificadas como José Ribamar de Brito Ferreira, de 63 anos, e Raimundo Nonato Barboza, de 39.
Detalhes do crime na região da Taboca
O crime ocorreu por volta das 16h do dia 28 de novembro, em uma área de garimpo conhecida como Taboca, na zona rural do município de Mucajaí. De acordo com relatos de familiares registrados em boletim de ocorrência, as mortes aconteceram durante um conflito com indígenas.
A região da Taboca é de acesso extremamente complicado e abrange parte da Terra Indígena Yanomami, território que se estende por quase 10 milhões de hectares entre Roraima e Amazonas. Os corpos das vítimas só puderam ser retirados do local por meio de transporte aéreo contratado pelas próprias famílias.
Investigação e versões sobre a localização
Após serem levados para uma fazenda em Mucajaí, os corpos foram removidos pela Polícia Civil para Boa Vista, onde passaram por exames no Instituto Médico Legal (IML). Laudos apontaram que as mortes foram causadas por choque hipovolêmico, decorrente de grande perda de sangue provocada por tiros.
Enquanto a Polícia Civil segue com as investigações no lado brasileiro, a Casa de Governo, órgão federal responsável pelo combate ao garimpo ilegal, apresentou uma versão diferente sobre a localização exata do crime. Em nota, o órgão afirmou que a área onde os garimpeiros foram mortos está localizada em território venezuelano.
A Casa de Governo destacou que a região é frequentemente usada por garimpeiros para atividades de logística ilegal, servindo como rota de acesso e esconderijo para aeronaves e suprimentos. "Por se tratar de território estrangeiro, não há atuação direta da Casa de Governo no local", informou o órgão, ressaltando que, do lado brasileiro, segue com ações de proteção ao território e às comunidades indígenas.
O contexto de crise na Terra Yanomami
Este incidente ocorre em um momento de tensão permanente na Terra Yanomami. A atividade garimpeira na região é histórica, datando desde pelo menos a década de 1970. Em 2023, o governo federal decretou emergência no território para enfrentar uma crise sanitária sem precedentes, agravada pela contaminação de rios com mercúrio e pela destruição de roças.
Quase três anos após o decreto de emergência, lideranças indígenas continuam denunciando que o garimpo ilegal segue ativo e causando impactos devastadores, como desnutrição e alterações profundas na rotina dos povos originários. O caso dos dois garimpeiros mortos escancara, mais uma vez, os riscos e a violência associados a essa atividade criminosa em uma das áreas indígenas mais sensíveis e protegidas do Brasil.