Mel de mangue gera renda para 50 famílias em Pernambuco
Mel de mangue sustenta famílias em Pernambuco

Produção sustentável de mel transforma vida de comunidades no litoral pernambucano

No município de Barreiros, localizado no Litoral Sul de Pernambuco, agricultores rurais estão desenvolvendo uma iniciativa inovadora que alia geração de renda à conservação ambiental. Eles investem na apicultura em manguezais, produzindo um mel com características únicas que beneficia diretamente 50 famílias da região.

Cooperativismo e processamento do mel

A Cooperativa de Trabalho Agrícola, Assistência Técnica e Serviços (Cooates) mantém uma unidade de beneficiamento que processa aproximadamente duas toneladas de mel por ano. O produto é extraído das flores da Copiúba, árvore nativa da região, o que confere ao mel um sabor e aroma diferenciados no mercado.

Os apicultores cuidam de cerca de 200 colmeias distribuídas em dois manguezais próximos ao Rio Una, na Mata Sul do estado. As abelhas utilizadas na produção são de uma espécie africana, adaptadas às condições locais.

Proteção ambiental e reflorestamento

A iniciativa vai além da produção de alimentos. Ao ocupar os manguezais com colmeias, os agricultores ajudam a proteger o território contra duas grandes ameaças: o desmatamento e as ocupações irregulares.

Parte dos lucros obtidos com a venda do mel é destinada ao financiamento de um viveiro de mudas para reflorestamento dos manguezais. Como explica Josías Luiz da Silva, presidente da cooperativa e também apicultor: "Preservar também é ter renda, também é melhorar a qualidade de vida, também é pensar na geração futura".

Parceria com universidade e biocosméticos

A cooperativa estabeleceu uma parceria estratégica com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde pesquisadores estudam e desenvolvem biocosméticos a partir do mel do mangue. De acordo com o professor Luiz Soares, que coordena a iniciativa, desde o início de 2022 o projeto vem captando recursos para sua execução.

A pesquisadora Flávia Sales, integrante do projeto, explica que a matéria-prima produzida pelas abelhas é um excelente componente para a produção de biocosméticos: "Xampu, condicionador, máscara, cremes de pentear… o mel com o própolis caem muito bem com isso, então eu acho que tem tudo pra dar certo".

O projeto ganhará em breve uma fábrica de biocosméticos, que será instalada em um casarão próximo à produção do mel. A iniciativa é uma parceria com o departamento de farmácia da UFPE e representa um importante passo na agregação de valor ao produto local.

Capacitação e desenvolvimento comunitário

Dentro do escopo do projeto, alguns membros da cooperativa farão pós-graduação na UFPE para integrar os recursos humanos da fábrica nas áreas de produção, controle e melhoramento dos produtos cosméticos derivados de mel e própolis.

O professor Luiz Soares destaca que a proposta une ciência, inovação e saberes tradicionais: "Tem essa relevância da manutenção da biodiversidade, associada a uma melhoria da qualidade de vida nos territórios destas famílias".

Josías Luiz da Silva, que trabalha diretamente na produção do mel, testemunha a transformação na comunidade: "Tá todo mundo vivendo melhor e satisfeito e, cada dia mais, a gente está evoluindo com essa produção de mel aqui do mangue".

A iniciativa em Barreiros demonstra como é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental, criando um ciclo virtuoso que beneficia tanto as famílias locais quanto o ecossistema dos manguezais pernambucanos.