Jovens e mulheres lideram revolução na agricultura familiar do Cariri
Juventude e mulheres impulsionam agricultura no Cariri

Uma nova geração de agricultores está escrevendo um capítulo promissor para o campo na região do Cariri, no Ceará. Jovens e mulheres são os protagonistas de uma transformação que combina tradição, inovação e sustentabilidade, garantindo o sustento de dezenas de famílias e o abastecimento de escolas locais com alimentos frescos e de qualidade.

O amor que move: jovens dão novo ritmo à roça

Aos 27 anos, Lucas Barbosa é um exemplo dessa nova energia. Aprendendo o ofício desde cedo com o pai, hoje ele colhe hortaliças e frutas com um sorriso no rosto que traduz paixão. “É o amor que move. É um trabalho muito pesado, mas a gente vai levando a vida. Plantar uma muda, ver ela germinar e crescer, dar fruto, é muito gratificante”, afirma o agricultor, que faz parte de um projeto de agricultura familiar em Juazeiro do Norte.

No Sítio São Gonçalo, a diversidade impressiona: acerola, goiaba, manga, alface e abobrinha convivem no mesmo espaço. José Rodrigues, outro agricultor local, tem na batata-doce sua especialidade e defende um princípio claro: “Não é só produzir, tem que ter qualidade e ter aonde entregar”. Esse “aonde” é a Cooperativa dos Agricultores Familiares do Cariri (COAFAC), que mudou a realidade da região.

Segundo Erislan Pereira, presidente da COAFAC, a força da juventude tem sido um motor para o crescimento. A cooperativa sustenta 36 famílias, reunindo cerca de 150 agricultores, dos quais 15 são jovens. Atualmente, cerca de 20 toneladas de frutas e hortaliças são comercializadas por mês. A maior parte dessa produção tem um destino nobre: a merenda de crianças e adolescentes das escolas de ensino infantil, fundamental e médio de Juazeiro do Norte.

“Antes da cooperativa, a agricultura era só de inverno, quando chovia. Hoje isso mudou”, explica Pereira. Com projetos iniciados em 2019, a infraestrutura evoluiu: hoje há irrigação e três poços profundos em uma área de 36 tarefas de terra, permitindo produção constante.

A força feminina que cultiva e empreende

A revolução no campo também tem rosto de mulher. Na comunidade Baixa do Maracujá, a 20 quilômetros do Crato, jovens agricultoras mostram sua força. No quintal de Dona Virgínia Bezerra, a vida floresce em diversas culturas, com destaque para o pequi. “O que a gente vende mais é o pequi. Junta e vende para o mercado, as feiras, para ajudar na renda da família”, conta Virgínia.

Essa organização é possível graças à Associação das Trabalhadoras Rurais, liderada por Aparecida Santos, de apenas 26 anos. Ela coordena 15 mulheres associadas e busca expandir a rede. “Temos uma diversidade de produtos da agricultura familiar, do extrativismo e até artesanato e comidas típicas”, afirma a jovem líder.

Dona Margarida da Hora, agricultora aposentada, observa com esperança o trabalho das mais novas: “É preciso que se dê continuidade para que elas levem toda a bagagem que nossos antepassados nos deixaram”. Para Alaíde, uma servidora pública que visita a feira das agricultoras, o protagonismo feminino é inspirador e incentiva outras mulheres a verem valor produtivo em seus próprios quintais.

Cooperativismo: a chave para o futuro no campo

O sucesso dessa transformação tem um nome: cooperativismo. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) atua para incentivar a permanência dos jovens na agricultura familiar, abrindo portas para novos mercados e oferecendo capacitações. Para Lucas Bonfim, analista de desenvolvimento das cooperativas, esse apoio é essencial. “Os jovens estão inseridos nas cooperativas e vendo o impacto que elas causam na realidade deles. Hoje eles garantem a venda da produção, geram renda”, destaca.

O objetivo é claro: capacitar a nova geração para assumir as futuras responsabilidades e garantir a sustentabilidade do modelo. Eventos de mobilização, como um realizado no final de novembro, reúnem centenas de jovens. Mais de 200 representantes de 26 cooperativas cearenses já participaram desses encontros para debater o futuro do campo.

João Bosco, presidente de uma associação local com quase 15 anos de existência, vê na juventude a garantia de continuidade. “Assim como eu, tem muitos que estão perto de sair da agricultura por conta da idade. E com os jovens tem garantia desse futuro”, reforça.

Luiz Gastão, presidente do Sistema Fecomércio, lembra que a importância dos jovens vai além das porteiras das propriedades. “Estar no campo não é só plantar, é tecnologia, é fazer com que ele possa ter uma renda, uma sustentabilidade... É muito importante que todos tenham consciência de comprar esses produtos”, afirma, conectando a produção rural ao consumo urbano.

Unindo tradição e inovação, jovens e mulheres do Cariri cearense provam que a agricultura familiar é muito mais que uma atividade econômica. É um pilar de sustento, um cultivo de futuro e uma força que fortalece comunidades inteiras, garantindo alimento saudável na mesa das famílias e esperança no horizonte do sertão.