O agronegócio brasileiro acaba de ganhar uma nova e poderosa vantagem estratégica no cenário global. Um estudo recente indica que o fertilizante de baixo carbono, também conhecido como verde, já alcançou um patamar de custo muito próximo ao do fertilizante tradicional produzido a partir de gás natural.
Competitividade impulsionada pela matriz renovável
A pesquisa, conduzida pelo Instituto E+ Transição Energética em parceria com o Rocky Mountain Institute, destaca que a viabilidade econômica do fertilizante verde é uma realidade em projetos híbridos. Esses projetos combinam geração de energia renovável dedicada com conexão à rede elétrica.
O coração dessa competitividade está na amônia verde, insumo responsável por até 90% do custo final do fertilizante. No Brasil, a produção dessa amônia já se mostra economicamente viável, especialmente em polos industriais estratégicos como Rio Grande e Pecém.
Essa vantagem comparativa é sustentada pela abundante e diversificada matriz energética nacional, que inclui:
- Grande potencial eólico e solar
- Farta disponibilidade de biomassa
- Crescente produção de biometano, que deve ser multiplicada por sete até 2029
Redução de um gargalo histórico e ganhos geopolíticos
Atualmente, o Brasil enfrenta uma dependência crítica de importações no setor de fertilizantes. Cerca de 97% dos fertilizantes nitrogenados utilizados na agricultura nacional vêm de outros países.
Essa vulnerabilidade se traduz em um déficit comercial de 4,3 bilhões de dólares registrado em 2024, o maior do mundo no segmento. Portanto, a ampliação da produção doméstica de fertilizantes verdes não é apenas uma questão ambiental, mas uma urgência econômica e geopolítica.
A expansão dessa indústria fortalece a segurança do abastecimento do agronegócio, protegendo-o de choques externos e flutuações nos mercados internacionais.
Alinhamento com o plano nacional e potencial futuro
As conclusões do estudo estão em sintonia com as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Fertilizantes 2050, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O plano prevê o aumento gradual da produção nacional aliado à redução das emissões de carbono do setor.
Considerando a capacidade já instalada e os projetos em desenvolvimento, o Brasil tem potencial para produzir até 3,8 milhões de toneladas de nitrogênio por ano. Esse volume seria suficiente para suprir aproximadamente 45% da demanda projetada para 2050.
Desse total, uma parte significativa, estimada em 1,2 milhão de toneladas, poderia ser originada de fontes de baixo carbono. Essa mudança no parque produtivo posiciona o país não apenas como uma potência agrícola, mas também como um polo global de referência na transição energética.
A combinação de um mercado agrícola de grande escala com uma matriz energética limpa e competitiva cria uma oportunidade única. O Brasil pode transformar um ponto de fragilidade em uma de suas maiores forças, garantindo sustentabilidade, segurança alimentar e liderança tecnológica nas próximas décadas.