Um projeto científico desenvolvido no Rio Grande do Sul está apresentando resultados promissores na redução da emissão de gases do efeito estufa provenientes da atividade agropecuária. A iniciativa, liderada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), utiliza tecnologia de ponta para medir e, consequentemente, mitigar o impacto ambiental do setor.
Torres de monitoramento: os olhos no campo
A espinha dorsal da pesquisa são nove torres de monitoramento instaladas em áreas de cultivo de soja, trigo, milho, arroz e pastagens, localizadas no Rio Grande do Sul e no Paraná. Essas estruturas são equipadas com sensores de alta precisão que realizam um trabalho minucioso.
Os aparelhos medem as concentrações de dióxido de carbono (CO²) e metano (CH4) na atmosfera diretamente sobre as plantações e pastagens. Com capacidade para fazer até dez leituras por segundo, eles registram com exatidão a quantidade de gases que é liberada ou absorvida pelo ecossistema agrícola.
Todos os dados coletados são enviados em tempo real, via internet, para o laboratório da UFSM, que fica a 230 quilômetros de distância. "Com isso, conseguimos ter informações a cada meia hora sobre esse fluxo, essa troca. Sabemos quanto gás está indo para a atmosfera e quanto está vindo da atmosfera para as plantas e o solo", explica a pesquisadora Débora Robert, da UFSM.
Resultados comprovam eficácia de boas práticas
Os primeiros números do monitoramento são animadores e quantificam o benefício de técnicas agrícolas sustentáveis. Em um ciclo de cultivo de soja no verão seguido de trigo no inverno, com o solo descoberto entre uma safra e outra, o sistema conseguiu absorver cerca de 1,8 tonelada de carbono por hectare.
No entanto, quando os produtores adotam o uso de plantas de cobertura, como o nabo forrageiro, nesse intervalo entre cultivos, o salto na eficiência é significativo. A fixação de carbono no solo vai para 6,3 toneladas por hectare, um aumento expressivo.
"O carbono não pode estar na atmosfera; ele precisa estar dentro do solo, virando matéria orgânica. Essa matéria orgânica vai absorver água, vai absorver nutrientes, vai ativar a biologia do solo e deixá-lo mais fértil e aerado. Portanto, o carbono dentro do solo é um fator direto de qualidade", comenta o pesquisador Rodrigo Jacques, também da UFSM.
Impacto no arroz e na pecuária
Os benefícios se estendem a outras culturas. No arroz, a manutenção da cobertura do solo entre os ciclos elevou a fixação de carbono em aproximadamente uma tonelada por hectare e, de quebra, reduziu as emissões de CO² em 50%. Com a aplicação de boas práticas de manejo, as lavouras ainda conseguem diminuir a emissão de metano em até 60%.
A pesquisa também avaliou a atividade pecuária na região do Pampa gaúcho, onde o gado é criado em pastagens nativas. O estudo mostrou que, quando o pecuarista realiza um manejo adequado das pastagens, é possível alcançar um equilíbrio entre a emissão e a absorção de metano. Além disso, essa prática aumentou em 400% a fixação de carbono no solo.
Ganho duplo: para o planeta e para o produtor
Uma das torres de monitoramento está instalada na propriedade do agricultor Arthur Krebs, que vivencia na prática os benefícios da agricultura de baixo carbono. Para ele, a equação é clara e vantajosa para todos os lados.
"É uma relação 100% ganha-ganha. O meio ambiente ganha com a diminuição da concentração de CO² na atmosfera, e a gente, como produtor, ganha agregando esse carbono ao solo, o que melhora diretamente a produtividade das nossas culturas", aponta Krebs.
O trabalho dos pesquisadores gaúchos demonstra que a conciliação entre produção agropecuária e preservação ambiental não só é possível, mas também gera resultados econômicos positivos. A adoção de técnicas simples, como a cobertura do solo, se transforma em uma poderosa ferramenta no combate às mudanças climáticas, fortalecendo a posição do Brasil como protagonista em uma agropecuária sustentável e tecnológica.