Pesquisadores do RS reduzem emissão de gases estufa em 50% na agropecuária
Estudo no RS reduz emissões de gases estufa na agropecuária

Um projeto científico desenvolvido no Rio Grande do Sul está apresentando resultados promissores na redução da emissão de gases do efeito estufa provenientes da atividade agropecuária. A iniciativa, liderada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), utiliza tecnologia de ponta para medir e, consequentemente, mitigar o impacto ambiental do setor.

Torres de monitoramento: os olhos no campo

A espinha dorsal da pesquisa são nove torres de monitoramento instaladas em áreas de cultivo de soja, trigo, milho, arroz e pastagens, localizadas no Rio Grande do Sul e no Paraná. Essas estruturas são equipadas com sensores de alta precisão que realizam um trabalho minucioso.

Os aparelhos medem as concentrações de dióxido de carbono (CO²) e metano (CH4) na atmosfera diretamente sobre as plantações e pastagens. Com capacidade para fazer até dez leituras por segundo, eles registram com exatidão a quantidade de gases que é liberada ou absorvida pelo ecossistema agrícola.

Todos os dados coletados são enviados em tempo real, via internet, para o laboratório da UFSM, que fica a 230 quilômetros de distância. "Com isso, conseguimos ter informações a cada meia hora sobre esse fluxo, essa troca. Sabemos quanto gás está indo para a atmosfera e quanto está vindo da atmosfera para as plantas e o solo", explica a pesquisadora Débora Robert, da UFSM.

Resultados comprovam eficácia de boas práticas

Os primeiros números do monitoramento são animadores e quantificam o benefício de técnicas agrícolas sustentáveis. Em um ciclo de cultivo de soja no verão seguido de trigo no inverno, com o solo descoberto entre uma safra e outra, o sistema conseguiu absorver cerca de 1,8 tonelada de carbono por hectare.

No entanto, quando os produtores adotam o uso de plantas de cobertura, como o nabo forrageiro, nesse intervalo entre cultivos, o salto na eficiência é significativo. A fixação de carbono no solo vai para 6,3 toneladas por hectare, um aumento expressivo.

"O carbono não pode estar na atmosfera; ele precisa estar dentro do solo, virando matéria orgânica. Essa matéria orgânica vai absorver água, vai absorver nutrientes, vai ativar a biologia do solo e deixá-lo mais fértil e aerado. Portanto, o carbono dentro do solo é um fator direto de qualidade", comenta o pesquisador Rodrigo Jacques, também da UFSM.

Impacto no arroz e na pecuária

Os benefícios se estendem a outras culturas. No arroz, a manutenção da cobertura do solo entre os ciclos elevou a fixação de carbono em aproximadamente uma tonelada por hectare e, de quebra, reduziu as emissões de CO² em 50%. Com a aplicação de boas práticas de manejo, as lavouras ainda conseguem diminuir a emissão de metano em até 60%.

A pesquisa também avaliou a atividade pecuária na região do Pampa gaúcho, onde o gado é criado em pastagens nativas. O estudo mostrou que, quando o pecuarista realiza um manejo adequado das pastagens, é possível alcançar um equilíbrio entre a emissão e a absorção de metano. Além disso, essa prática aumentou em 400% a fixação de carbono no solo.

Ganho duplo: para o planeta e para o produtor

Uma das torres de monitoramento está instalada na propriedade do agricultor Arthur Krebs, que vivencia na prática os benefícios da agricultura de baixo carbono. Para ele, a equação é clara e vantajosa para todos os lados.

"É uma relação 100% ganha-ganha. O meio ambiente ganha com a diminuição da concentração de CO² na atmosfera, e a gente, como produtor, ganha agregando esse carbono ao solo, o que melhora diretamente a produtividade das nossas culturas", aponta Krebs.

O trabalho dos pesquisadores gaúchos demonstra que a conciliação entre produção agropecuária e preservação ambiental não só é possível, mas também gera resultados econômicos positivos. A adoção de técnicas simples, como a cobertura do solo, se transforma em uma poderosa ferramenta no combate às mudanças climáticas, fortalecendo a posição do Brasil como protagonista em uma agropecuária sustentável e tecnológica.