A COP30, conferência climática das Nações Unidas realizada em Belém do Pará, trouxe avanços importantes para o Brasil na área florestal, mas deixou a desejar em outras frentes fundamentais para o desenvolvimento econômico do país. A avaliação é do professor Marcos Jank, do Insper, especialista em agronegócio brasileiro.
Oportunidade perdida em áreas estratégicas
Durante o Fórum VEJA Agro, realizado em São Paulo no dia 24 de novembro de 2025, Jank afirmou que o evento teve nas florestas seu ponto central, mas representou uma chance perdida para avançar em temas como agricultura sustentável e biocombustíveis. Essas são áreas onde o Brasil possui liderança mundial em relação a outros países, segundo o especialista.
"O ponto central foi a preservação das florestas, mas perdemos uma chance de avançar mais nas áreas de agricultura sustentável e biocombustíveis", declarou o pesquisador durante o evento. Ele destacou que cabe ao Brasil liderar essas discussões e buscar aliados, principalmente entre países tropicais, não do mundo desenvolvido.
Brasil precisa internacionalizar suas soluções
Jank enfatizou que não existe "bala de prata" - uma solução única - para a transição energética global. Os biocombustíveis representam uma das alternativas que precisam ser exploradas, assim como a eletrificação de equipamentos movidos a combustíveis fósseis, tendência já consolidada na China.
"São soluções que o Brasil desenvolve para o mundo desde os anos 1970", disse Jank sobre tecnologias como biocombustíveis e técnicas sustentáveis de produção. "Mas não conseguimos ainda internacionalizar essas soluções", concluiu, indicando uma lacuna importante na estratégia brasileira.
Para além das commodities
O professor do Insper avalia que, apesar de ser o principal exportador de commodities agrícolas do mundo, o país evoluiu pouco na promoção de soluções mais sofisticadas. Essa visão foi compartilhada por Gustavo Junqueira, ex-secretário de Agricultura de São Paulo, que também participou do fórum.
"Estamos no limite do que essa estratégia de venda de commodities nos permite", alertou Junqueira. "Precisamos ir além do grão de soja, vender o produto, o combustível avançado, a tecnologia tropical".
Ambos os especialistas concordam que o Brasil precisa agregar valor à sua produção, transformando conhecimento técnico em produtos e tecnologias exportáveis que vão além das matérias-primas básicas.