
O rio Javaés testemunhou nesta semana uma daquelas cenas que ficam gravadas na memória de qualquer um. Enquanto equipes de resgate trabalhavam contra o tempo — e contra as águas revoltas — familiares dos pescadores desaparecidos formavam um círculo de fé na margem. Rezavam. E esperavam. O pior, infelizmente, se confirmaria horas depois.
Dois pescadores, identificados como Raimundo Nonato Farias e Francisco Edvan da Silva, foram vítimas fatais de uma descarga elétrica durante uma pescaria de fim de semana. O que deveria ser um momento de lazer transformou-se em tragédia quando uma tempestade — daquelas que parecem vir com raiva — surpreendeu o grupo no sábado (12).
Imagino a cena: o céu escurecendo de repente, o vento aumentando, aquela sensação de que a natureza está prestes a mostrar sua força. E mostrou. Com uma intensidade brutal.
O momento do impacto
Testemunhas contam que o raio caiu por volta das 16h, horário em que a tempestade já estava formada. Os pescadores estavam em uma área aberta do rio, próximos à Praia do Saranzá, quando o fenômeno natural os atingiu em cheio. Dois deles morreram instantaneamente — a descarga elétrica não deu chances.
Um terceiro homem, que estava no mesmo barco, sobreviveu por milagre. Foi ele quem conseguiu alertar outras embarcações sobre a tragédia. Você consegue imaginar o desespero? Ver seus companheiros caírem, saber que a morte passou raspando por você...
A longa espera nas margens
Enquanto isso, em terra firme, familiares começavam a sentir que algo estava errado. O tempo passava, a noite caía, e nenhum sinal dos pescadores. Na manhã de domingo (13), a angústia já havia se transformado em desespero.
Foi então que se formou aquele círculo de oração na beira do rio. Homens, mulheres, crianças — todos unidos por um único propósito: pedir força para enfrentar o que viesse pela frente. E pedir, também, que seus entes queridos fossem encontrados.
Não era um ritual organizado, nada formal. Era gente comum, com fé simples, buscando conforto no que sabiam fazer de melhor: rezar.
O resgate e a confirmação
O Corpo de Bombeiros foi acionado ainda no sábado à noite, mas as condições do tempo — ironicamente — impediram que as buscas avançassem. Só na manhã de domingo, com o tempo mais calmo, foi possível localizar os corpos.
Os dois pescadores foram encontrados ainda dentro do barco, que estava à deriva. A cena deve ter sido de cortar o coração dos bombeiros — profissionais acostumados com tragédias, mas nunca imunes à dor alheia.
E na margem, as orações continuavam. Agora não mais pedindo por um milagre, mas sim pela força para aceitar o inevitável.
Um alerta que vem do céu
Essa tragédia serve como um daqueles alertas que a gente prefere ignorar. Tempestades com raios são comuns nesta época do ano no Tocantins, mas quantos de nós realmente tomamos os cuidados necessários?
Especialistas sempre alertam: durante tempestades, áreas abertas como rios, lagos e praias são literalmente os piores lugares para se estar. A água conduz eletricidade, e um barco no meio de um rio torna-se uma espécie de alvo perfeito.
Mas a gente pensa: "nunca vai acontecer comigo". Até que acontece.
Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal de Formoso do Araguaia. Os familiares — aqueles mesmos que horas antes rezavam na beira do rio — agora se preparam para o último adeus.
O rio Javaés segue seu curso, indiferente. Mas para aquela comunidade pesqueira, domingo (13) deixou uma marca que não será esquecida tão cedo.