
O que começou como mais um dia de verão na movimentada Praia da Enseada, no Guarujá, transformou-se rapidamente em uma cena de puro desespero. Era por volta das 15h30 dessa segunda-feira quando o grito ecoou pela areia — aquele tipo de grito que congela o sangue até dos banhistas mais experientes.
Um menino boliviano de apenas oito anos, que curtia o litoral paulista com a família, havia desaparecido nas águas. O pânico tomou conta de todos. Mas o que aconteceu depois… bem, isso é que vai ficar na memória.
Corrida contra o tempo
Testemunhas contam que foi tudo muito rápido. Um banhista atento — desses que parecem ter radar para problemas — avistou algo estranho e mergulhou. Quando voltou à superfície, trazia nos braços o pequeno Kevin, completamente inconsciente. A cena era de cortar o coração: o menino, pálido, sem reação alguma.
Enquanto isso, a família boliviana, em desespero total, corria em direção ao mar. A mãe, sem entender bem o português, gritava em espanhol, implorando por ajuda. O pai, tentando manter a calma — mas claramente desesperado — pedia por um milagre.
O poder da fé nas areias
E então aconteceu algo extraordinário. Espontaneamente, sem combinação prévia, dezenas de banhistas formaram um círculo ao redor do menino e começaram a rezar. Uns de joelhos na areia quente, outros em pé, muitos com as mãos unidas. Católicos, evangélicos, espíritas — naquele momento, a religião não importava.
"Foi algo que brotou naturalmente", conta Maria das Graças, uma aposentada de 67 anos que estava no local. "A gente viu aquela criança tão pequena, tão frágil… e simplesmente começamos a pedir a Deus. Não tinha outra coisa a fazer, a não ser rezar."
Enquanto as preces ecoavam, o salvador — que preferiu não se identificar — fazia as compressões torácicas. Suas mãos tremiam ligeiramente, mas ele não parava. Minuto após minuto, numa luta silenciosa contra o tempo.
O suspiro que mudou tudo
E então, quando a esperança já começava a minguar… Kevin tossiu. Foi um som fraco, quase imperceptível, mas suficiente para arrancar lágrimas de todos ao redor. A água saiu de sua boca, seus olhos se abriram lentamente, confusos.
O alívio foi tão intenso que algumas pessoas simplesmente desabaram na areia, chorando. Outros abraçavam desconhecidos, numa cena de pura emoção. A mãe do menino, aos prantos, beijava as mãos de quem estava por perto, repetindo "gracias, gracias" entre soluços.
Os bastidores do socorro
O Corpo de Bombeiros chegou pouco depois, quando Kevin já estava consciente. Levaram-no para o Hospital Municipal de Guarujá, onde passou por avaliação médica. Os profissionais de saúde ficaram impressionados com o estado do menino — e mais ainda ao saberem dos detalhes do resgate.
"Casos como esse mostram como a ação rápida de leigos pode fazer toda a diferença", comentou um dos paramédicos, que pediu para não ser identificado. "Aqueles primeiros minutos são cruciais."
A família boliviana, ainda abalada mas infinitamente grata, acompanhou Kevin durante toda a avaliação médica. Felizmente, o prognóstico é bom — o menino deve receber alta em breve, apenas para observação.
O vídeo que emocionou
Um vídeo gravado por banhistas — que rapidamente viralizou — mostra cada segundo dessa história. Dá para ver perfeitamente o momento exato em que Kevin reage, e a explosão de alívio que se segue. É daqueles registros que arrepia até o mais cético dos espectadores.
Moral da história? Talvez seja que, mesmo nos momentos mais sombrios, a humanidade sabe brilhar. Ou, como diria dona Maria, a aposentada: "Às vezes, Deus coloca anjos onde a gente menos espera — e hoje eles estavam de bermuda e chinelo na Praia da Enseada".