
Era como se o próprio sertão estivesse em chamas. Durante dois dias inteiros, o Parque Nacional Grande Sertão Veredas — aquele pedaço do Brasil que Guimarães Rosa imortalizou — enfrentou um dos seus piores pesadelos. O fogo, teimoso e voraz, avançou sem piedade pela vegetação seca.
Mas eis que, depois de 48 horas de uma luta que parecia desigual, as chamas finalmente se renderam. Ou melhor, foram domadas. A notícia chegou na tarde desta terça-feira, trazendo um alívio que quase dava para tocar. Uma vitória duramente conquistada por homens e mulheres que não mediram esforços.
Uma guerra contra o fogo
Parece exagero chamar de guerra? Quem esteve lá garante que não. Imagine só: três aeronaves despejando água do céu, enquanto no chão, bombeiros e brigadistas — esses heróis anônimos — enfrentavam o calor insuportável e a fumaça que dificultava até respirar.
Eles trabalharam noite e dia, numa correria contra o tempo. O fogo já havia consumido nada menos que 1.500 hectares quando finalmente começou a recuar. Uma área que dá para imaginar? Pense em aproximadamente 1.500 campos de futebol — tudo virando cinzas.
O que salvou o parque
Duas coisas foram decisivas nesse combate, segundo os especialistas. A primeira foi a resposta rápida — assim que o incêndio começou no domingo, as equipes já estavam a caminho. A segunda foi o trabalho conjunto entre o ICMBio, Corpo de Bombeiros e o Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais.
Coordenar tudo isso não era tarefa simples, mas funcionou. Enquanto os aviões faziam seu trabalho vindo de cima, as equipes em solo criavam aquilo que os bombeiros chamam de "linhas de contenção" — basicamente, barreiras para o fogo não passar.
E deu certo. Na tarde de terça, o alívio era visível nos rostos de todos.
E agora, o que vem pela frente?
Controlar as chamas é apenas o primeiro capítulo dessa história. A pergunta que fica é: o parque vai se recuperar? A natureza, essa mestra da resiliência, costuma surpreender. Mas especialistas já alertam — vai levar tempo. Talvez anos.
Enquanto isso, as equipes seguem em vigilância. Porque com vegetação seca e temperaturas altas, qualquer faísca pode reacender o inferno. E ninguém quer reviver esses dois dias difíceis.
O Parque Grande Sertão Veredas respira aliviado. Mas a lição fica: preservar esse patrimônio é trabalho para todos nós, não apenas para os bombeiros.