
Imagine precisar de uma cirurgia urgente e, além da dor, ter que lidar com a exigência de um "agrado" em dinheiro. Foi exatamente o que aconteceu com dezenas de pacientes do SUS em Mato Grosso do Sul.
O caso, que parece saído de um roteiro de filme sobre corrupção, ganhou novo capítulo esta semana. O Tribunal de Justiça local manteve a condenação do médico que transformou consultórios públicos em balcão de negócios particulares.
O esquema que envergonha a saúde pública
Segundo os autos do processo — e aqui a coisa fica realmente revoltante — o profissional pedia valores que variavam entre R$ 500 e R$ 3.000 para marcar cirurgias eletivas. Um verdadeiro "pedágio da dor", como definiu um dos promotores do caso.
Detalhe estarrecedor: muitos pacientes eram de baixa renda e acabavam fazendo vaquinhas entre familiares para conseguir o valor exigido. Enquanto isso, na fila do SUS, quem não podia pagar seguia esperando meses, às vezes anos.
Condenação mantida
A decisão do TJ-MS foi unânime. Os desembargadores consideraram provas mais que suficientes:
- Depoimentos de 17 pacientes
- Gravações feitas às escondidas por quem se recusou a participar do esquema
- Extratos bancários com depósitos suspeitos
O médico, cujo nome foi preservado por questões processuais, responderá por corrupção passiva e violação de princípio administrativo. A pena? 4 anos e 8 meses de reclusão inicialmente em regime semiaberto.
"É um caso emblemático que mancha a imagem de milhares de profissionais honestos", comentou o presidente da regional do Conselho de Medicina, em entrevista coletiva após o julgamento.
Efeito dominó
A decisão judicial acendeu o debate sobre:
- Fiscalização nos hospitais públicos
- Proteção a denunciantes
- Mecanismos para evitar novos casos
Enquanto isso, na sala de espera de um posto de saúde na capital, Dona Maria, 62 anos, resume o sentimento geral: "A gente já sofre com a demora, ainda ter que passar por humilhação dessas? Tomara que sirva de exemplo".