3 ginecologistas do Hospital Heliópolis são afastadas após faltas e aulas de pilates
Médicas do Heliópolis afastadas por descumprir jornada

A Organização Social Albert Einstein, responsável pela gestão do Hospital Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo, determinou o afastamento de três médicas ginecologistas nesta quinta-feira (4). A medida foi tomada após uma investigação do SP2 flagrar as profissionais descumprindo seus horários de trabalho para realizar atividades pessoais.

Denúncia e investigação

As irregularidades foram denunciadas na quarta-feira (3) e debatidas ao longo da tarde por equipes da Secretaria Estadual da Saúde e da própria Organização Social Einstein. Em nota, a administração do hospital informou que as médicas Márcia Kamilos, Mara Gomes e Silmara Fialho serão afastadas até a conclusão do processo de investigação.

Por serem servidoras públicas, outras ações disciplinares podem ser tomadas pela Secretaria Estadual da Saúde durante o apuramento da conduta das profissionais. A direção do hospital garantiu que, a partir de sexta-feira (5), pacientes com consultas já agendadas serão atendidas por novos médicos, remanejados para cobrir as vagas.

Rotina de irregularidades flagradas

A reportagem do SP2 acompanhou a rotina das médicas por um mês. As três ginecologistas que atuam no Ambulatório de Especialidades do complexo hospitalar foram vistas fazendo compras e frequentando aulas de pilates nos horários em que deveriam estar atendendo pacientes.

Silmara Fialho, cuja escala previa trabalho às segundas (7h-15h) e quartas (7h-14h), foi registrada saindo mais cedo, chegando com atraso e realizando compras na zona cerealista do Centro de São Paulo em horário de expediente. Nos dias 24 e 26 de novembro, ela simplesmente não compareceu ao trabalho.

Mara Gomes foi flagrada retornando ao ambulatório após três horas de ausência, período em que fez aula de pilates e almoçou. Em outra ocasião, ela foi vista em uma aula de pilates em São Caetano do Sul às 9h, horário em que deveria estar no hospital.

Márcia Kamilos não vai ao hospital há um ano, com base em um atestado médico de 365 dias por "capacidade laborativa prejudicada", emitido desde dezembro de 2024. Contudo, uma clínica particular no bairro dos Jardins oferecia consultas com ela para 17 de dezembro. A médica também participou ativamente de congressos e deu aulas em várias cidades ao longo do ano.

Impacto nos pacientes e salários recebidos

Enquanto isso, pacientes enfrentavam extrema dificuldade para agendar consultas. A cozinheira Rita de Cássia relata tentar marcar um atendimento há mais de seis meses, sempre recebendo a justificativa de falta de vagas ou de médicos. A irmã dela vive situação similar.

"A gente se sente humilhada. Você contribui, trabalha a vida inteira, paga seus impostos. Se o SUS existe, agradeça a gente... e quando a gente precisa tudo é negado", desabafou Rita.

De acordo com o Portal da Transparência do Estado de São Paulo, de janeiro a outubro de 2025, as três médicas receberam salários que somam mais de R$ 210 mil.

Posicionamento e próximos passos

A Secretaria Estadual da Saúde repudiou qualquer conduta incompatível com a ética profissional e reforçou que a população deve denunciar casos de falhas no serviço público, como falta de médicos ou dificuldade para marcar consultas.

A expectativa do Hospital Heliópolis é realizar 300 atendimentos ginecológicos em dezembro, o dobro do total realizado no mês anterior. As médicas Márcia Kamilos afirmou que a administração tem ciência de seu afastamento e da documentação. Silmara Fialho e Mara Gomes não responderam aos contatos da reportagem.