O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Prefeitura de Campinas iniciaram investigações sobre um volume considerado elevado de licenças médicas entre os profissionais da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Carlos Lourenço. A unidade, que faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS), está no centro de um caso que já soma pelo menos 600 dias de afastamentos apenas no ano de 2025.
Os números que chamaram a atenção das autoridades
De acordo com as informações apuradas, o quadro de 36 clínicos gerais da UPA, todos servidores concursados, foi bastante impactado. Desse total, 28 médicos apresentaram atestados médicos entre os meses de janeiro e outubro. Um dado que se destaca é que dez desses profissionais tiveram mais de 15 dias de licença nesse período.
O caso mais expressivo é o de um médico que acumulou 155 dias de afastamento através da Licença para Tratamento de Saúde (LTS). Outros registros também chamam a atenção, como afastamentos de 95 e 74 dias. Somente os dez profissionais com mais licenças somam, juntos, 569 dias de ausência no serviço em 2025.
Pontos críticos sob investigação
A Prefeitura de Campinas, que já havia levado o caso ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), apura pelo menos dois aspectos considerados atípicos além da quantidade de dias.
A maioria dos atestados foi solicitada entre quinta-feira e domingo, o que levanta questionamentos sobre a coincidência com os finais de semana. Outro ponto investigado é a emissão de atestados por especialistas como ginecologistas e pediatras para médicos do sexo masculino, o que foge da prática comum.
A Rede Mário Gatti, responsável pela gestão da unidade, emitiu nota afirmando que todos os atestados são verídicos, mas que a investigação busca entender a real necessidade de sua emissão. A rede também confirmou que o Cremesp, a seu pedido, já abriu uma sindicância para apurar o caso.
Desdobramentos e possíveis penalidades
O Ministério Público informou que vai instaurar um procedimento de ofício para apurar as possíveis irregularidades. Enquanto isso, a Prefeitura de Campinas consulta outros hospitais e unidades de saúde, via Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), para verificar se os médicos afastados atuaram em outros locais durante seus períodos de licença da rede municipal.
As consequências para os profissionais envolvidos podem ser severas, caso sejam confirmadas irregularidades. De acordo com a prefeitura, o resultado da investigação pode levar desde advertências e suspensão do exercício profissional até a cassação do registro, passando pela abertura de processo ético-profissional.
A UPA Carlos Lourenço, inaugurada em novembro de 2019, é uma das quatro da rede municipal e a única com médicos exclusivamente concursados. A unidade possui 23 leitos de observação e atende, em média, 200 pessoas por dia. Os plantões dos médicos podem variar de 24h a 36h semanais, com salários médios que vão de R$ 20 mil a R$ 26 mil.