
Quase seis anos se passaram, mas a ferida ainda sangra. E agora, uma decisão que muitos consideram tardia, porém necessária, finalmente chegou. O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) simplesmente puxou o tapete de quinze profissionais que estavam no epicentro daquela tarde catastrófica de janeiro de 2019.
Estamos falando de engenheiros e técnicos — gente que supostamente deveria zelar pela segurança — que tiveram seus registros profissionais cancelados. Cancelados, não cassados — a diferença é sutil, mas importante. Eles simplesmente deixaram de existir no mundo da engenharia mineira.
O peso da responsabilidade técnica
O que esses quinze fizeram — ou deixaram de fazer — vai muito além de um simples erro de cálculo. Segundo o Crea-MG, eles assinaram laudos, fizeram vistorias e deram aval técnico para a barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu e varreu vidas, sonhos e um pedaço de Minas Gerais do mapa.
Dá pra acreditar? 270 mortos. Uma cidade inteira transformada em lama. E agora, anos depois, a conta chegou para quem estava nos bastidores.
- Doze engenheiros civis
- Dois técnicos em edificações
- Um engenheiro de produção
Esses eram os nomes por trás dos carimbos. Pessoas com formação, experiência e — supostamente — consciência profissional.
Um processo que parecia não ter fim
O caminho até essa decisão foi longo, tortuoso. Mais de 50 processos administrativos rolaram no Crea-MG investigando o que deu errado. A verdade é que ninguém acorda um dia decidindo ser responsável por uma tragédia — mas a negligência, ah, a negligência é uma escolha diária.
E o pior? Alguns desses profissionais já tinham até abandonado a profissão. Fugiram do barco antes que ele afundasse de vez. Outros ainda tentavam seguir na área — imagina o constrangimento.
"A medida tem caráter pedagógico e de prevenção", dizem os conselheiros. Pedagogia do jeito mais duro possível: mostrando que assinar papel sem responsabilidade tem consequências reais.
Além da punição: o que muda?
Sem registro, sem profissão. Simples assim. Esses quinze não podem mais exercer atividades técnicas em Minas Gerais — pelo menos não legalmente. É como se a profissão deles tivesse evaporado.
E sabe o que é mais irônico? O Crea-MG nem precisou cassar os registros — os próprios profissionais pediram o cancelamento quando viram que a corda estava apertando. Uma saída pela tangente, diriam alguns.
Mas a pergunta que fica martelando: será que quinze registros cancelados são suficientes para 270 vidas perdidas? A matemática aqui não fecha, não é mesmo?
A lama secou, a vegetação começou a nascer de novo, mas as famílias — essas continuam esperando por algo que se pareça com justiça completa. E talvez essa decisão do Crea seja apenas um capítulo nessa história interminável.
O que me deixa pensando: quantas assinaturas irresponsáveis ainda estão por aí, esperando para se transformar em tragédias? Brumadinho deveria ter sido a última — mas será que foi?