
O silêncio do Pantanal foi quebrado por um estrondo na última sexta-feira. Um Cessna 210, que deveria estar em outro lugar, em outro momento, tentou um pouso desesperado numa área que não era pista, não era aeroporto, não era nada além de natureza selvagem.
E a natureza cobrou seu preço.
O que realmente aconteceu naquela noite?
Segundo a Polícia Civil, o avião simplesmente... bateu numa árvore. Parece absurdo, não? Um equipamento que custa centenas de milhares de dólares, capaz de voar acima das nuvens, derrubado por um elemento tão básico da paisagem pantaneira.
Mas a verdade é que quando você tenta burlar as regras da aviação, até uma árvore se torna um obstáculo mortal.
As vítimas: histórias interrompidas
Dentro da aeronave estavam quatro pessoas cujas vidas terminaram abruptamente. O piloto Edson Ortiz de Godoy, 62 anos – experiente, mas talvez confiante demais. Os passageiros: Carlos Eduardo de Arruda, 48; Cristiano Scarpari, 42; e Renan Scarpari, de apenas 17 anos.
Renan... mal tinha começado a viver. Uma tragédia que corta pela raiz promessas de futuro.
O que os levava àquela região? Por que arriscar um pouso noturno num local inadequado? São perguntas que ecoam no vazio deixado pela partida deles.
A investigação: desmontando o quebra-cabeça
O delegado Fábio Cavassa, que coordena as investigações, foi direto ao ponto: "Estamos diante de um pouso irregular em área não autorizada". A frase soa técnica, mas carrega o peso de uma negligência que custou caro.
Os peritos do Cenipa trabalham no local como cirurgiões numa autópsia – cada fragmento do avião conta uma parte da história. E essa história parece ter um capítulo crucial: a asa direita da aeronave apresentava marcas inequívocas de ter colidido com vegetação.
Traduzindo: o piloto simplesmente não viu a árvore, ou calculou mal a altura, ou talvez estivesse lutando contra outras variáveis que nunca saberemos.
O local do acidente: solidão e perigo
A Fazenda São Bento, em Corumbá, ficava a meros 12 quilômetros da área urbana. Doze quilômetros que podem parecer nada durante o dia, mas que à noite, no Pantanal, se transformam em uma eternidade de escuridão e perigos invisíveis.
Imagino o momento: o piloto sobrevoando a escuridão, procurando um lugar para descer, os passageiros talvez assustados, talvez confiantes. E então... o impacto.
O Corpo de Bombeiros levou horas para chegar até lá. Quando finalmente encontraram os destroços, só restava confirmar o óbito de todos os ocupantes.
Lições que custam vidas
Todo acidente aéreo traz ensinamentos amargos. Desta vez, a lição parece óbvia: pousos irregulares são uma roleta russa onde as balas têm formato de árvores.
A aviação brasileira tem regras por um motivo – cada uma escrita com o sangue de quem morreu antes. Ignorá-las é assinar uma sentença com data marcada.
Enquanto as famílias choram seus mortos e a polícia tenta entender os últimos momentos do voo fatal, fica a pergunta que não quer calar: quantas tragédias como essa precisam acontecer até que pilotos parem de arriscar pousos onde não deveriam?
O Pantanal, testemunha silenciosa de mais essa tragédia, segue seu curso. A vida continua para a maioria, mas para quatro famílias, o mundo parou na sexta-feira.