Problema histórico no centro de Mogi das Cruzes
O cenário caótico de fios entrelaçados em postes tornou-se uma paisagem comum no Centro de Mogi das Cruzes, mas esconde riscos sérios para pedestres e prejuízos significativos para comerciantes. O emaranhado de cabos, que parece apenas um problema estético, representa uma ameaça real à segurança pública e ao funcionamento do comércio local.
Situação crítica nas principais vias
A reportagem identificou pelo menos oito pontos críticos na rua Coronel Souza Franco e cinco na Barão Jaceguai onde o excesso de fios nos postes é evidente. Elaine Nogueira, comerciante de 47 anos, convive com essa realidade há dois anos em sua loja de eletrônicos. Ela relata que caminhões que circulam pela região frequentemente esbarram na fiação, causando interrupções no serviço de internet.
"Desde que cheguei aqui tem esse problema", afirma Elaine. "O caminhão passa, derruba o fio e a frente da loja fica horrível, com os cabos caídos. A internet vive caindo e é muito perigoso para nós pedestres".
Impacto direto no comércio local
Bira Marques, proprietário de uma loja de estofados na mesma região, compartilha da mesma preocupação. Ele destaca o tráfego intenso de veículos pesados como principal causador do problema. "Aqui tem muito tráfego de caminhão e às vezes passa um arrancando os fios", explica.
A situação se repete na rua Barão de Jaceguai, onde Wellington Simões trabalha há cinco anos em uma loja de instrumentos musicais. Segundo ele, o problema se intensificou nos últimos três anos. "Várias vezes ficamos sem internet. Nós atendemos via WhatsApp e isso nos prejudica", relata.
Risco iminente para a população
A bióloga Adriana Bravim, de 53 anos, expressa sua preocupação com a segurança. "Tem fiação que fica na calçada e você não sabe se é perigoso ou não. Aglomerados de fios que podem cair a qualquer momento, dar um curto circuito", alerta.
Wellington Simões reforça o perigo: "Caminhão e ônibus arrastam os fios e muitos ficam pendurados. Quem passa pela calçada pode esbarrar e é perigoso. Não sabemos se é energizado ou não".
Disputa de responsabilidades
Enquanto a população sofre com as consequências, as empresas envolvidas se isentam de responsabilidade. A EDP, concessionária de energia elétrica na região, informou que a fiação pertence a empresas de telefonia. Já a Vivo afirmou que enviou uma equipe técnica ao local e solucionou o problema.
A Tim destacou que não tem cabeamento nos endereços citados, e a Claro não se manifestou até o fechamento da reportagem.
Ações judiciais e multas milionárias
A Prefeitura de Mogi das Cruzes ingressou com uma Ação Civil Pública contra a EDP em maio. Uma decisão liminar do juiz Bruno Machado Miano determinou que a empresa resolvesse a situação precária em 18 pontos centrais da cidade e apresentasse um plano de manutenção para todo o perímetro urbano.
A EDP recorreu da decisão e um novo julgamento está marcado para 18 de novembro.
O Procon de Mogi das Cruzes multou a concessionária em R$ 13,7 milhões por falhas no fornecimento de energia elétrica e pela falta de manutenção na fiação dos postes em diversos pontos da cidade.
Números alarmantes
Desde janeiro, a Ouvidoria Geral de Mogi das Cruzes recebeu 168 reclamações de moradores referentes à fiação. O Departamento de Fiscalização de Posturas notificou a EDP 82 vezes por problemas relativos à fiação aérea.
A Associação Comercial de Mogi das Cruzes classificou a situação como "temerária", destacando os riscos à segurança de pedestres e comerciantes, além do impacto negativo na paisagem urbana.
Diferenças técnicas e responsabilidades
De acordo com a Anatel, os cabos de energia são mais robustos e possuem isolamento específico para suportar níveis de tensão e corrente elevados. Já os fios de telefonia e internet são mais finos e projetados para minimizar interferência no sinal transmitido.
A responsabilidade pela gestão da ocupação de postes é das distribuidoras de energia elétrica, enquanto cabe às empresas de telefone e internet cumprir a legislação e corrigir irregularidades apontadas pelas companhias de luz.
Enquanto a disputa judicial segue seu curso e as empresas se envolvem em uma guerra de responsabilidades, moradores e comerciantes continuam convivendo diariamente com os riscos e prejuízos causados pelo emaranhado de fios que domina o centro de Mogi das Cruzes.