
Parece cenário de filme pós-apocalíptico, mas é a realidade de um bairro em Sorocaba. Onde antes funcionava um lixão clandestino — aqueles que surgem como cogumelos depois da chuva —, ergueram uma creche que hoje está mais para ruína do que para centro educacional.
Oito meses de portas fechadas. Oito meses de abandono que transformaram o local em playground para vândalos. As marcas estão por toda parte: janelas quebradas, pichações que mais parecem gritos de revolta, portas arrancadas como se fossem dentes cariados.
O paradoxo da situação
Quem passa pelo local hoje dificilmente imagina que ali deveria haver crianças brincando. "É uma ironia do destino", comenta Dona Marta, moradora da região há 20 anos. "Tiraram o lixo do chão pra colocar no ar, na forma de abandono."
Os vizinhos relatam que:
- O mato já ultrapassa meio metro de altura
- O cheiro de mofo compete com o antigo odor do lixão
- À noite, o local vira ponto de encontro para atividades suspeitas
E o pior? Ninguém — absolutamente ninguém — parece saber quando a situação vai mudar. A prefeitura, quando questionada, fala em "processos burocráticos". Como se papelada resolvesse o problema do concreto que está se esfacelando dia após dia.
O passado que insiste em assombrar
Quem conhece a história do local diz que há algo de simbólico na situação. O terreno que deveria representar renovação — afinal, creches são o futuro, não? — parece preso ao seu passado de descaso.
"É como se o espírito do lixão não quisesse sair", brinca um comerciante local, antes de completar, sério: "Mas na verdade o problema tem nome e sobrenome: falta de manutenção básica".
Enquanto isso, as crianças do bairro continuam sem vaga em creches públicas. Ironia? Tragédia? Ou só mais um capítulo da crônica da administração pública brasileira?