Ônibus no Capão Redondo são os mais lentos de SP com 15,4 km/h
Ônibus no Capão Redondo são os mais lentos de SP

Velocidade de tartaruga: ônibus no Capão Redondo são os mais lentos de São Paulo

Os ônibus que circulam no distrito do Capão Redondo, localizado na Zona Sul de São Paulo, registram a menor velocidade média entre todos os 96 distritos da capital paulista. De acordo com o Mapa da Desigualdade 2025, divulgado nesta quarta-feira (27) pela Rede Nossa São Paulo, a velocidade média dos coletivos na região é de apenas 15,4 km/h.

O estudo, elaborado anualmente, compara diversos indicadores entre os distritos da cidade, incluindo mobilidade, renda, saneamento básico e acesso a serviços públicos essenciais. A lentidão extrema no transporte coletivo tem impacto direto na qualidade de vida dos moradores, que enfrentam horas intermináveis de deslocamento entre suas residências e locais de trabalho.

Ranking da lentidão: outros distritos com ônibus lentos

O Mapa da Desigualdade identificou outros distritos paulistanos onde a velocidade dos ônibus também preocupa. Logo após o Capão Redondo, aparecem:

  • Mandaqui, na Zona Norte, com média de 15,8 km/h
  • Jabaquara e Pedreira, ambos com aproximadamente 16 km/h
  • Campo Limpo, também na Zona Sul, com 16,8 km/h

O vendedor Gabriel Olavo, morador do Guarapiranga, compartilha sua experiência diária com a lentidão: "Saio do Guarapiranga e pego ônibus sempre lotados. Às vezes demoram muito pra chegar e acabo me atrasando pro trabalho. Precisam colocar mais ônibus e melhorar o trânsito".

Contraste impressionante: onde os ônibus são mais rápidos

Enquanto a Zona Sul concentra os trajetos mais lentos, ela também abriga o distrito com os ônibus mais velozes de toda a cidade. Em Marsilac, os veículos alcançam velocidade média de 25,5 km/h - a maior registrada no levantamento completo.

Na sequência do ranking de velocidade, aparecem:

  • Parque Anhanguera
  • São Domingos
  • Jaguará

Todos localizados na Zona Oeste, com médias superiores a 22 km/h, e Parelheiros, novamente na Zona Sul, com 21,4 km/h.

Impacto devastador na qualidade de vida dos trabalhadores

A diferença de velocidade tem consequências reais e profundas no tempo que cada passageiro permanece dentro do transporte público. O vigilante Márcio Luiz Cardoso Godinho, que trabalha em dois empregos com escala de 12 por 36 horas, descreve seu deslocamento como um verdadeiro "terceiro turno".

"Passo mais tempo dentro do ônibus do que em casa. Durmo quatro, cinco horas por dia. Minha qualidade de vida é péssima", relata o trabalhador.

A realidade da faxineira Ana Paula Rodrigues Nunes não é diferente. Ela calcula gastar quase quatro horas diárias no trajeto de ida e volta entre sua casa e o trabalho. "Às vezes levo duas horas e meia pra ir e voltar. Tudo por causa da lentidão e do excesso de carros. Mas é São Paulo, né?", comenta, resignada.

Soluções em debate: o que dizem especialistas e poder público

Para Igor Pantoja, coordenador de Relações Institucionais do Instituto Cidades Sustentáveis, a lentidão dos ônibus resulta diretamente da falta de prioridade ao transporte público nas vias da capital.

"É preciso reconhecer a importância do transporte coletivo em detrimento do individual. Isso significa planejar melhor o uso das ruas, garantir faixas exclusivas em horários de pico e adequar os modelos de ônibus às características de cada região", explica o especialista.

Pantoja é enfático ao afirmar que, "enquanto as vias forem dominadas por carros, a mobilidade continuará sendo um desafio para os trabalhadores. Se não houver espaço e gestão para priorizar o transporte público, os ônibus continuarão andando em velocidade de tartaruga".

A Prefeitura de São Paulo informa que estão previstos novos BRTs e corredores de ônibus para melhorar a fluidez do sistema. Além disso, a administração municipal destaca a entrega de 54 quilômetros de faixas exclusivas e um novo trecho do corredor Itaquera, na Zona Leste.