Porto de Cruzeiro do Sul: atoleiros e espera de 15 dias paralisam carga no Acre
Atoleiros e demora no porto de Cruzeiro do Sul, no Acre

Um cenário de dificuldades e riscos se repete no porto utilizado para descarregar cargas vindas de Manaus em Cruzeiro do Sul, interior do Acre. Apesar do nível do Rio Juruá estar favorável para a navegação, medindo 9,01 metros nesta sexta-feira (5), a falta de infraestrutura adequada no local transforma a operação em um verdadeiro sacrifício para trabalhadores e caminhoneiros.

Acesso precário e risco de acidentes

Relatos colhidos pela Rede Amazônica Acre revelam uma realidade alarmante. Durante o período chuvoso, o acesso ao porto se torna extremamente difícil, com a formação de atoleiros e um elevado risco de acidentes. Pelo local passam itens essenciais como alimentos, produtos de limpeza, materiais de construção, combustíveis, equipamentos, produtos agrícolas e madeira legalizada. Contudo, a estrutura precária atrasa todo o processo de descarga, impactando a distribuição desses produtos.

O comandante de embarcação Francisco Aldemir, que atua na rota entre Manaus e Cruzeiro do Sul, descreve a rotina com preocupação. Ele explica que parte do trabalho de acesso precisa ser feita manualmente pelos próprios trabalhadores, sem o apoio adequado do poder público. "Todos os anos, quando chega o inverno, é esse sacrifício aqui no porto", lamenta Aldemir.

Espera no porto supera tempo da viagem fluvial

A situação atinge um ponto crítico quando se analisa o tempo perdido. Francisco Aldemir revela que a viagem de barco entre Cruzeiro do Sul e Manaus leva cerca de 15 dias. No entanto, o tempo parado no porto aguardando para carregar ou descarregar pode ultrapassar esse período. "Estou gastando mais tempo parado no porto para carregar do que na viagem. Isso aqui já passou do limite para nós", completa o comandante, que defende a construção de uma rampa de concreto para garantir segurança nas operações.

Além dos motoristas, cerca de 20 trabalhadores responsáveis pelo transbordo das cargas também são diretamente afetados. Eles enfrentam a falta de equipamentos adequados e de pessoal suficiente, o que amplia os tempos de espera e compromete especialmente produtos perecíveis, que podem estragar durante a longa demora.

Resposta das autoridades e futuro do porto

Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagens do Acre (Deracre) reconheceu os problemas. O órgão informou que a estrutura atual, construída em 2004, foi afetada por desbarrancamentos e pelas cheias do Rio Juruá, o que comprometeu a operação no local. O Deracre afirmou ainda que a área para um novo porto está em processo de transferência para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Como medida emergencial, o departamento estadual disse ter enviado uma máquina e uma equipe para reforçar o acesso ao porto, garantindo apoio até o início das intervenções definitivas que devem resolver o problema de forma permanente. A comunidade aguarda, no entanto, uma solução rápida e eficaz para um problema que se repete a cada ano e impacta o abastecimento e a economia da região.