O Universo, em sua grandiosidade infinita, também segue um ciclo de vida. Nas últimas duas décadas, uma descoberta crucial vem ganhando força nos observatórios e estudos científicos: o cosmos pode ter passado do seu auge. Um dos sinais mais claros dessa mudança é a redução constante no nascimento de novas estrelas.
O Ciclo de Vida Estelar e o Fim de uma Era
O consenso entre os cientistas é de que o Universo tem aproximadamente 13,8 bilhões de anos. As primeiras estrelas surgiram pouco depois do Big Bang, e evidências disso foram encontradas até mesmo em nossa galáxia. Em 2023, o poderoso Telescópio Espacial James Webb identificou um trio de estrelas na Via Láctea com idade estimada em mais de 13 bilhões de anos.
As estrelas nascem em vastas nuvens de poeira e gás, as nebulosas. A força da gravidade aglomera esse material, que se aquece até dar origem a uma protoestrela. No núcleo, a pressão e o calor extremos – milhões de graus – iniciam a fusão nuclear, transformando hidrogênio em hélio e liberando a energia que faz uma estrela brilhar. Essa fase estável é chamada de sequência principal e abriga cerca de 90% de todas as estrelas, incluindo o nosso Sol.
No entanto, nada é eterno. Estrelas como o Sol esgotam seu combustível ao longo de bilhões de anos. Já as estrelas massivas, com pelo menos oito vezes a massa solar, têm um fim espetacular em explosões de supernova.
O Domínio das Estrelas Veteranas e o Resfriamento Cósmico
Em 2013, uma pesquisa internacional já apontava uma realidade impressionante: 95% de todas as estrelas que existirão já nasceram. "Estamos claramente vivendo em um Universo dominado por estrelas antigas", afirmou David Sobral, autor principal daquele estudo.
O pico da formação estelar, um período batizado de Meio-dia Cósmico, ocorreu há cerca de 10 bilhões de anos. Desde então, a taxa vem caindo. "As galáxias convertem gás em estrelas, e estão fazendo isso a uma taxa decrescente", confirma o cosmólogo Douglas Scott, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.
Scott é coautor de um estudo recente, em fase de revisão por pares, que analisou dados dos telescópios Euclid e Herschel. A equipe examinou simultaneamente mais de 2,6 milhões de galáxias, focando no calor emitido pela poeira estelar. Galáxias que formam muitas estrelas tendem a ter poeira mais quente. A descoberta foi que as temperaturas das galáxias vêm caindo gradualmente ao longo de bilhões de anos.
"Já ultrapassamos em muito o tempo máximo de formação estelar, e haverá cada vez menos novas estrelas em cada geração", explica Scott. O processo é como reciclar materiais de construção: cada vez que uma estrela morre e seu material é reutilizado, parte se perde. "Cada geração de estrelas tem menos combustível para queimar", diz o cosmólogo.
O Futuro: Um Universo Frio e Escuro?
Os cientistas teorizam há tempos sobre o fim do Universo. A teoria mais aceita atualmente é a da Morte Térmica ou Grande Congelamento. Ela prevê que, com a expansão contínua do cosmos, a energia se espalhará tanto que o Universo ficará frio e inerte demais para sustentar qualquer processo, incluindo a formação de estrelas.
"A quantidade de energia disponível no Universo é finita", ressalta Scott. As estrelas restantes se afastarão umas das outras, consumirão seu combustível e nenhuma nova surgirá para tomar seu lugar.
Contudo, antes de qualquer melancolia, é vital lembrar a escala de tempo envolvida. Novas estrelas continuarão a nascer pelos próximos 10 a 100 trilhões de anos – um período inimaginavelmente longo, muito além da existência do nosso Sol. Quanto ao Grande Congelamento definitivo, estimativas de astrônomos holandeses da Universidade Radboud sugerem que ele ocorrerá daqui a cerca de um quinvigintilhão de anos (o número 1 seguido de 78 zeros).
Portanto, ainda temos tempo de sobra – literalmente, uma eternidade pela frente – para contemplar e admirar o espetáculo das estrelas em uma noite de céu limpo.