
Parece que os brasileiros estão redescobrindo as belezas que têm literalmente no quintal de casa. Uma pesquisa recente do IBGE jogou luz sobre uma tendência que muita gente já sentia no ar — ou melhor, nas estradas.
Os números não mentem: estamos trocando sonhos de viagens internacionais por roteiros mais acessíveis, mais próximos e, quem diria, igualmente encantadores. É como se tivéssemos aberto os olhos para o que sempre esteve ali, mas que a ânsia por destinos distantes nos impedia de ver.
Os números que contam histórias
Os dados são claros — e reveladores. Entre janeiro e setembro deste ano, os destinos domésticos foram os grandes campeões. As viagens internacionais, aquelas que demandam passaporte, fuso horário e orçamento mais generoso, ficaram em segundo plano.
Mas por quê? A resposta parece óbvia quando paramos para pensar. A economia anda meio capenga, o real não está lá essas coisas frente ao dólar, e o bolso do brasileiro — bem, o bolso fala mais alto.
O fator surpresa
O que mais me chamou atenção, confesso, foi a mudança no perfil das viagens. Não se trata apenas de trocar Paris por Porto Seguro. É uma transformação mais profunda no modo como encaramos o ato de viajar.
As pessoas estão optando por:
- Destinos a até 200 km de distância
- Viagens de fim de semana prolongado
- Roteiros que valorizam a natureza regional
- Experiências autênticas em vez de turismo de massa
É quase uma revolução silenciosa acontecendo nas estradas brasileiras.
Além da economia
Claro que o fator financeiro pesa — e muito. Mas será que é só isso? Tenho minhas dúvidas. A pandemia nos ensinou a valorizar o local, o próximo, o que está ao alcance. E parece que essa lição ficou.
As pessoas estão descobrindo que não precisam cruzar oceanos para encontrar paisagens de tirar o fôlego. As serras, as praias, as cachoeiras e as cidades históricas do nosso próprio país oferecem experiências tão ricas quanto qualquer destino internacional.
E tem mais: viagens mais curtas significam menos tempo no deslocamento e mais tempo aproveitando de fato o destino. Quem nunca chegou exausto num lugar paradisíaco depois de horas de voo?
O novo perfil do viajante
O brasileiro está mais esperto — e eu diria até mais sábio. Em vez de economizar anos para uma única viagem dos sonhos, está distribuindo o orçamento em várias experiências ao longo do ano.
É a velha máxima: qualidade em vez de quantidade, só que aplicada ao turismo. Dois ou três fins de semana prolongados em destinos regionais podem oferecer mais satisfação — e menos estresse — do que uma grande viagem internacional.
E o melhor? Sem precisar lidar com os perrengues do jet lag.
O que isso significa para o futuro?
Essa mudança de comportamento não é passageira — tudo indica que veio para ficar. Os destinos brasileiros que estavam acostumados a receber principalmente turistas estrangeiros agora estão redescobrindo o público doméstico.
E isso é bom para todo mundo. Para o viajante, que conhece melhor seu próprio país. Para as economias locais, que recebem um impulso importante. E para o meio ambiente, já que viagens mais curtas geralmente significam menor pegada de carbono.
No fim das contas, parece que estamos aprendendo que aventura e descanso não são privilégio de lugares distantes. Estão ali, na esquina, esperando para serem descobertos.
Quem sabe essa não seja a melhor herança que poderíamos deixar para o turismo brasileiro? Uma nova forma de viajar, mais consciente, mais acessível e, por que não, mais genuinamente nossa.