O cirurgião bariátrico e pesquisador Cid Pitombo utiliza o filme 'Um Senhor Estagiário', estrelado por Robert De Niro, para fazer uma reflexão profunda sobre como a sociedade trata seus cidadãos mais velhos. Em sua coluna, publicada em 5 de dezembro de 2025, ele contrasta a realidade brasileira com a cultura que observou durante uma viagem pela Ásia, destacando a importância de valorizar a experiência.
A Sabedoria Desprezada: Um Retrato do Brasil
Na comédia protagonizada pelo septuagenário Robert De Niro, um idoso decide retornar ao mercado de trabalho como estagiário. Sua sabedoria e bagagem de vida, inicialmente ignoradas, passam a transformar positivamente o ambiente e as pessoas ao seu redor. Pitombo vê nessa narrativa um alerta contundente para a realidade de seu país.
Ele critica a forma como o Brasil, um país que classifica como jovem, trata seus experientes cidadãos. Universidades e órgãos públicos frequentemente aposentam automaticamente aqueles que atingem certa idade, independentemente de sua vitalidade física e mental. Para o pesquisador, essa prática equivale a desperdiçar décadas de conhecimento acumulado, confinando profissionais ainda capazes a uma espécie de "camarim sem luz", limitado a jornais, TV e um sofá.
O Contraste Oriental: Onde os Sábios são Protagonistas
Em contraponto, Pitombo relata suas impressões após 20 dias de viagem pela China, onde já percorreu mais de 10 cidades e visitou instituições de ensino e pesquisa. Ele se emocionou ao perceber que, em uma nação com milênios de história, os idosos são vistos como personagens centrais da sociedade.
"Na sabedoria oriental, esse filme tem um enredo bem diferente", escreve. Nos ambientes que frequentou, observou que os jovens dominam as ferramentas digitais e a dinâmica moderna, mas a condução, o protagonismo, permanece com os mais velhos. Para ele, afastar o "ator principal" quando a série da vida chega aos capítulos finais é um erro trágico, uma perda irreparável de direção e conhecimento.
Experiência como Legado para o Amanhã
O médico finaliza sua reflexão com uma lição de seu falecido pai. Questionado sobre algo que "não era do seu tempo", o pai respondeu: "Como assim não é do meu tempo? O seu tempo é o meu tempo, já o meu tempo (o que vivi), nunca será do seu".
Essa frase sintetiza o cerne do argumento de Pitombo: a vida é um filme onde os idosos somam o hoje com o ontem, e essa soma é um recurso precioso para ensinar sobre o amanhã. A experiência vivida é um patrimônio único e intransferível. O pesquisador defende que o Brasil precisa urgentemente parar de "desistir desses personagens" e começar a enxergá-los como as celebridades que, na China, conduzem o desenvolvimento do país com seu currículo repleto de histórias e sabedoria.