A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) tomou uma decisão preliminar em dezembro de 2025 que gerou grande preocupação entre especialistas. A recomendação é pela não incorporação da finerenona ao SUS para tratar a doença renal crônica (DRC) associada ao diabetes tipo 2.
Decisão contraria evidências e amplia desigualdade
Essa posição da Conitec vai contra um conjunto robusto de evidências científicas e, segundo críticos, afronta o direito dos brasileiros a um tratamento eficaz. O cenário criado é de profunda desigualdade: atualmente, a finerenona já está disponível para pacientes da saúde suplementar (planos de saúde), mas permanece inacessível para quem depende exclusivamente do SUS.
Isso significa que pessoas com a mesma condição clínica terão trajetórias de tratamento radicalmente diferentes, definidas não por critérios médicos, mas por sua condição socioeconômica. A situação é especialmente grave porque a DRC associada ao diabetes é mais prevalente justamente em populações socialmente vulneráveis, que majoritariamente usam o sistema público.
Impacto clínico e econômico significativo
Do ponto de vista da saúde, a eficácia da finerenona é respaldada por grandes estudos clínicos, como FIDELIO-DKD e FIGARO-DKD. A terapia tem se mostrado capaz de reduzir desfechos renais e cardiovasculares, retardando a progressão da doença e preservando a função renal por mais tempo.
Economicamente, a decisão de manter o foco no tratamento tardio (diálise) em vez de investir em terapias que retardam a doença parece questionável. O Brasil gasta atualmente mais de R$ 4,2 bilhões por ano com terapia dialítica no SUS. Desse total, cerca de R$ 1,3 bilhão é destinado a pacientes diabéticos em hemodiálise.
Manifestação social foi ignorada
A recomendação da Conitec também desconsiderou a opinião majoritária expressa em consulta pública. O processo recebeu pouco mais de 1.700 contribuições, das quais 97,3% eram favoráveis à incorporação do medicamento no sistema público.
Sociedades médicas, especialistas e entidades de pacientes já se manifestaram a favor da revisão da decisão. A Sociedade Brasileira de Nefrologia, presidida pelo médico José A. Moura Neto (autor do texto original), formalizou posicionamento ao Ministério da Saúde, defendendo a incorporação como um investimento na sustentabilidade do SUS e na justiça social.
Reavaliar a recomendação é visto por especialistas como um imperativo ético e sanitário. A medida é necessária para evitar o aprofundamento das desigualdades e garantir um cuidado mais justo e baseado em evidências, alinhado aos princípios fundamentais do sistema público de saúde brasileiro.