A cidade de Santos, no litoral paulista, conquistou um marco histórico na saúde pública ao receber a Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical do HIV do Ministério da Saúde. A cerimônia oficial de entrega do título acontece nesta quarta-feira (3), em Brasília.
De capital da Aids a exemplo de superação
O reconhecimento atual contrasta fortemente com o passado da cidade. Entre as décadas de 1980 e 1990, Santos era conhecida como a "capital da Aids" do Brasil, liderando o ranking nacional de casos proporcionais à sua população. A epidemia avançou rapidamente, impulsionada, em parte, pela rota internacional do tráfico de cocaína pelo Porto de Santos, onde o compartilhamento de seringas entre usuários de drogas injetáveis acelerou a disseminação do vírus.
O cenário começou a mudar com a criação do primeiro programa municipal de enfrentamento à doença no país, que incluiu medidas pioneiras e, à época, polêmicas, como a distribuição de seringas para reduzir os contágios. A virada foi completa: o último registro de transmissão do HIV de mãe para filho em Santos ocorreu em 2017.
Riguroso processo de validação
Para obter a certificação, o município passou por um criterioso processo. O Ministério da Saúde analisou dados dos últimos três anos (2022 a 2024) e Santos precisou comprovar indicadores de impacto, manter bases de dados qualificadas e passar pela avaliação da Comissão Estadual de Validação (CEV).
Entre os dias 15 e 17 de setembro, uma equipe nacional do ministério visitou unidades de saúde e administrativas da cidade para verificar in loco o trabalho realizado. A certificação integra as ações do Dezembro Vermelho, mês de conscientização sobre HIV/Aids, e ocorre em um ano simbólico, que marca os 40 anos da resposta nacional à doença.
Pré-natal robusto como chave do sucesso
A estratégia que garantiu o resultado positivo é baseada em um acompanhamento rigoroso da gestante. Na rede municipal de Santos, a grávida realiza uma série de exames para detecção do HIV:
- Teste rápido no início do pré-natal.
- Exame laboratorial completo no primeiro trimestre.
- Repetição da bateria de exames na 28ª semana.
- Novo teste rápido entre a 32ª e a 34ª semana.
- Teste rápido final na maternidade, antes do parto.
Desde 2023, a prefeitura também oferece um check-up completo para o companheiro da gestante, incluindo testes para HIV, sífilis e hepatites, além de exames de rotina. A iniciativa, embora não seja uma recomendação formal do Ministério da Saúde, busca incentivar a participação ativa do homem na gestação.
Quando uma gestante é diagnosticada com HIV, ela recebe orientações para evitar a transmissão, como não amamentar o bebê. Após o nascimento, a criança inicia imediatamente medidas preventivas com antirretrovirais até o 28º dia de vida, e a cidade fornece fórmula infantil para sua alimentação.
A conquista de Santos se soma a um momento importante para o Brasil, que alcançou as metas de eliminação da transmissão vertical. Nesta quarta-feira, além do município paulista, outros 58 municípios e sete estados serão reconhecidos com certificados ou selos de boas práticas relacionadas à eliminação da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatite B.