Internações por pneumonia crescem 20% em SP após pandemia
Pneumonia: internações aumentam 20% após pandemia

Crescimento alarmante de pneumonia preocupa especialistas em São Paulo

O estado de São Paulo enfrenta um aumento significativo nos casos de pneumonia desde o final da pandemia, conforme revelam dados oficiais da Secretaria de Estado de Saúde. As internações hospitalares por essa doença respiratória vêm crescendo anualmente, com um aumento de 20,54% entre 2022 e 2023.

Números revelam situação crítica

Os registros do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que em 2022 foram realizados 104.125 procedimentos relacionados à pneumonia em todo o estado. No ano seguinte, esse número saltou para 125.515 internações, representando um crescimento preocupante.

Os dados de 2025 também não são animadores: apenas até agosto, 79.549 pessoas já foram internadas com pneumonia, mantendo a tendência de alta de aproximadamente 20% em comparação com o mesmo período de 2024.

Os atendimentos clínicos apresentam números ainda mais alarmantes. Enquanto em 2022 o estado registrou 52.010 casos de pneumonia, em 2024 esse número chegou a 132.896 - um aumento impressionante de 155%. E a tendência continua em 2025, com 122.808 atendimentos registrados apenas nos primeiros oito meses do ano.

Especialistas identificam múltiplas causas

Três especialistas consultados confirmaram que o problema não se restringe a São Paulo, mas ocorre em nível nacional. Eles destacam especialmente o crescimento de casos graves e da chamada pneumonia silenciosa, um tipo que apresenta menos sintomas nos dias iniciais, o que pode agravar as complicações.

Bernardo Mulinari Pessoa, mestre em saúde pública pela Johns Hopkins University e coordenador de cirurgia torácica do Hospital Santa Cruz, em Curitiba, explica: "Superada a pandemia, demos uma relaxada com os cuidados sanitários, como a higiene e o uso de máscaras. Há também estudos que sugerem que nossa imunidade está mais baixa desde então, possibilitando um adoecimento maior".

O médico alerta ainda para o aparecimento de outras cepas da pneumonia, como a Mycoplasma pneumoniae e a Micobactéria não tuberculosa, que podem resultar em casos mais graves do que a pneumonia comum, geralmente causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae.

Vacinação em queda e novos riscos

Cláudio Miranda, pneumologista do Hospital São Francisco, em Mogi Guaçu, aponta a redução dos índices de vacinação como um fator crucial para o aumento expressivo dos casos. "O Brasil enfrenta dificuldades para atingir metas de imunização em todas as vacinas, inclusive de pneumonia. Até mesmo contra a influenza. Uma gripe mal cuidada se transforma em uma infecção pulmonar", afirma.

João Carlos de Jesus, Coordenador do ambulatório de asma grave do Hospital Vera Cruz, complementa: "A baixa cobertura vacinal contra a influenza explica não só o aumento mas também a maior gravidade dos casos. As infecções virais são uma porta de entrada para as bacterianas, já que o organismo fica fragilizado e o dano da bactéria se potencializa".

Os especialistas também destacam o uso de cigarros eletrônicos como um novo fator de risco. Como não há regulamentação desses dispositivos no Brasil, não se sabe exatamente sua composição, mas já existe uma pneumonia específica causada pelo dano que o próprio cigarro eletrônico causa ao pulmão.

Como se prevenir

Os médicos são unânimes em afirmar que a vacinação é a melhor forma de prevenção, tanto com imunizantes específicos para pneumonia quanto contra influenza e covid-19. Outras recomendações importantes incluem:

  • Usar máscara próximo de pessoas com sintomas da doença
  • Manter uma boa hidratação
  • Consumir alimentos ricos em fibras
  • Evitar contato com cigarro, direta ou indiretamente
  • Manter uma rotina adequada de sono

João Carlos de Jesus ressalta: "Os adultos podem inclusive tomar vacina pneumocócica conjugada, que protege contra 20 tipos da bactéria Streptococcus pneumoniae. Embora ela não esteja disponível no SUS, vale à pena pagar para tomá-la".