Crise na saúde: HRT opera com mais do que o dobro da capacidade há um ano
O pronto-socorro do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), no Distrito Federal, enfrenta uma situação crítica de superlotação há pelo menos doze meses consecutivos. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação revelam que a unidade de saúde opera consistentemente acima de 100% de sua capacidade máxima, com picos alarmantes que chegam a quase triplicar o número de pacientes em relação aos leitos disponíveis.
Números que assustam: de 162% a 258% de ocupação
Entre outubro de 2024 e setembro de 2025, a lotação do pronto-socorro do HRT nunca ficou próxima ou abaixo dos 100% da capacidade. No mês considerado mais tranquilo desse período, dezembro de 2024, a emergência já operava em 162% da capacidade máxima. Isso significa que para cada dez leitos disponíveis, havia dezesseis pacientes sendo atendidos.
Os meses de agosto e setembro de 2025 apresentaram os cenários mais graves, com taxas de ocupação de 258% e 255%, respectivamente. Na prática, durante esses períodos, o hospital atendeu mais que o dobro e quase o triplo da quantidade de pacientes para a qual foi projetado.
O hospital possui 68 leitos de pronto-socorro adulto, mas os números de internação mostram a dimensão do problema:
- Setembro/2025: 173 pessoas internadas no PS
- Agosto/2025: 175 pessoas internadas no PS
- Julho/2025: 146 pessoas internadas no PS
80 mil atendimentos em nove meses
O volume total de atendimentos no pronto-socorro do HRT entre janeiro e setembro de 2025 chegou a quase 80 mil pacientes. Apenas em setembro, 10.371 pessoas foram atendidas na emergência do hospital, o que corresponde a uma média de 346 atendimentos diários.
É importante destacar que esses números incluem consultas e retornos que não exigiram internação ou período de observação, ou seja, pacientes que não ocuparam leitos no pronto-socorro, mas que mesmo assim demandaram recursos da unidade.
Falta de estrutura e equipe sobrecarregada
A equipe do HRT é composta por 93 médicos (sendo 58 com carga de 20 horas semanais), 37 enfermeiros (10 com carga de 20 horas) e 123 técnicos de enfermagem. No entanto, esses profissionais atendem tanto na emergência quanto em consultas e cirurgias eletivas com marcação prévia.
A situação se agravou ainda mais após a transferência de cirurgias do Hospital Regional de Samambaia para o HRT em agosto. A Secretaria de Saúde justificou a medida como necessária devido a reformas nas salas de cirurgia do hospital de Samambaia, que teriam duração inicial de 45 dias.
O prazo para conclusão das obras terminou em 29 de setembro, mas até 8 de outubro os trabalhos não haviam sido finalizados. Questionada sobre o atraso, que já ultrapassa um mês, a Secretaria de Saúde não informou novo prazo para a conclusão.
Cenário de desespero: pacientes no chão e atendimento precário
A superlotação extrema resultou em cenas deploráveis dentro do hospital. Reportagem da TV Globo mostrou que a acompanhante de um paciente precisou realizar um curativo em outro paciente internado devido à recusa da equipe em realizar o procedimento.
As imagens também revelaram que pelo menos duas pessoas dormiam no chão do hospital, evidenciando a falta de condições mínimas para o atendimento digno dos pacientes.
A Secretaria de Saúde afirmou, por meio de nota, que as cirurgias de pacientes do Hospital Regional de Samambaia têm sido realizadas no HRT, uma vez que as revitalizações do centro cirúrgico ainda não terminaram, acrescentando que a maioria dos pacientes retorna para recuperação no próprio HRSam.
Os dados e relatos mostram um sistema de saúde em colapso, com infraestrutura insuficiente, planejamento deficiente e políticas públicas ineficazes para resolver uma crise que se arrasta há mais de um ano e afeta diretamente a população do Distrito Federal.