O Hospital João XXIII, referência em atendimento de emergência em Minas Gerais, viveu momentos de caos no último domingo (23) quando a água da chuva começou a jorrar do teto e alagar diversos setores da unidade. O incidente, que provocou interrupção de cirurgias e perda de materiais, poderia ter sido evitado segundo documentos obtidos pela reportagem.
Alerta ignorado
Cerca de 20 dias antes do alagamento, funcionários do hospital haviam formalmente solicitado a limpeza preventiva das calhas. Em documento datado de 2 de novembro, os servidores alertavam sobre a "proximidade do período chuvoso" e pediam a manutenção para "evitar problemas com goteiras que são recorrentes no hospital".
Surpreendentemente, a solicitação direcionada ao serviço de manutenção constava como "cancelada" no sistema. Carlos Martins, diretor do sindicato que representa os trabalhadores da Rede Fhemig, confirmou a negligência: "Os funcionários do ambulatório já haviam solicitado através de um documento a revisão das calhas, e eles negaram esse pedido. A consequência disso é o que vimos, todo aquele caos".
Caos no hospital
Vídeos gravados durante o incidente mostram a gravidade da situação. A água vertia pelos canais de iluminação de um corredor, obrigando o remanejamento interno de pacientes e a interrupção de uma cirurgia devido a goteiras. O hospital, que já operava com superlotação, teve que lidar com água caindo sobre pacientes deitados em macas nos corredores.
"O hospital estava cheio, com vários pacientes em corredores, em macas. Quando chegou na parte da tarde e começou a inundar o hospital, a cair água sobre os pacientes, isso nos causou não só preocupação, mas também indignação", relatou Martins, que também é funcionário da unidade.
Medidas preventivas anunciadas
Em resposta ao ocorrido, o governo de Minas Gerais anunciou nesta quarta-feira (26) novas medidas preventivas para evitar repetição do problema. A Fhemig implementará três ações até o final do ano:
- Campanhas internas semanais para conscientizar usuários sobre o descarte correto de lixo
- Intensificação da limpeza do telhado e das calhas em intervalos menores
- Instalação de telas ou filtros removíveis nos pontos de captação
O governo estadual atribuiu o problema à combinação de condições meteorológicas atípicas - como alto volume de precipitação e ventos fortes - com a grande quantidade de lixo descartado incorretamente pelas janelas. Durante as ações emergenciais, foram encontrados resíduos como garrafas PET, copos descartáveis, embalagens e papelão entupindo as calhas.
A Fhemig afirmou que mantém um trabalho de limpeza e manutenção rotineiro e que, cinco dias antes do ocorrido, uma inspeção preventiva havia sido realizada. A fundação também destacou que "a unidade não deixou de receber pacientes graves em nenhum momento" e que as manutenções necessárias foram efetuadas "no menor prazo possível".