
A cena se repete todos os dias nos corredores dos principais hospitais públicos de Belo Horizonte: macas alinhadas umas contra as outras, pacientes esperando horas - quiçá dias - por um atendimento que nunca parece chegar. Um verdadeiro caos organizado, se é que isso existe.
O que era para ser exceção virou regra. As unidades de saúde da capital mineira estão funcionando com ocupação beirando o insustentável, muitas vezes ultrapassando 100% de sua capacidade nominal. E olhe que estamos falando de números oficiais - a realidade provavelmente é ainda mais assustadora.
O retrato de um sistema à beira do precipício
Não é exagero dizer que a situação chegou num ponto crítico. Nos prontos-socorros, as filas se estendem como serpentes cansadas. Pacientes com dores agudas, idosos frágeis, crianças febris - todos aguardam sua vez com uma paciência que já deveria ter virado virtude nacional.
Os profissionais de saúde? Esses heróis anônimos trabalham num ritmo sobre-humano, mas mesmo assim não dão conta. Como bem me disse uma enfermeira que preferiu não se identificar: "A gente tenta apagar incêndio com conta-gotas, mas sempre aparece mais fogo".
Os números que não mentem (e assustam)
Algumas unidades específicas chamam atenção pela gravidade da situação:
- O Hospital João XXIII, referência em trauma, opera consistentemente acima de 100%
- O Hospital das Clínicas da UFMG vive em estado permanente de emergência
- O Risoleta Neves, outra importante unidade, enfrenta filas que duram mais de 12 horas
E não pense que isso é problema apenas dos grandes hospitais. As unidades menores, que deveriam funcionar como filtro, também estão sobrecarregadas. É um efeito dominó de ineficiências.
As consequências humanas de um sistema doente
Por trás de cada porcentagem, de cada estatística, existe uma pessoa. Uma senhora com mais de 80 anos que esperou dois dias por uma vaga. Um trabalhador que se acidentou e precisou de horas para receber os primeiros cuidados. Uma mãe desesperada com o filho doente.
O pior? Muita gente desiste de esperar. Volta para casa com a doença ainda não tratada, o osso ainda não imobilizado, a dor ainda não medicada. É uma loteria perigosa - e as consequências podem ser irreversíveis.
Enquanto isso, os gestores públicos parecem enxugar gelo. Prometem melhorias, planos de contingência, investimentos. Mas na prática, pouco muda. O sistema continua deficitário, subfinanciado e - vamos combinar - mal gerido.
Precisamos falar sobre isso. Urgentemente. Porque saúde não é privilégio - é direito. E quando o sistema falha, são vidas que pagam o preço.