A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou uma decisão que deve impactar o agronegócio brasileiro. Em avaliação divulgada na sexta-feira, 28 de novembro de 2025, a agência classificou os herbicidas atrazina e alachlor como prováveis substâncias cancerígenas para seres humanos.
Revisão científica aponta riscos concretos
A conclusão foi baseada em uma revisão de evidências publicada na renomada revista The Lancet Oncology. O trabalho reuniu 22 cientistas de 12 países diferentes, que analisaram estudos em animais, mecanismos biológicos e pesquisas que associam os produtos a tumores em humanos.
No caso da atrazina, muito utilizada em cultivos de milho, sorgo e cana-de-açúcar no Brasil, os pesquisadores encontraram uma ligação com o aumento do risco de um tipo específico de câncer: o linfoma não Hodgkin com translocação cromossômica.
Já o herbicida alachlor apresentou uma relação dose-resposta com o câncer de laringe, conforme observado em um estudo com aplicadores de pesticidas. Para ambos os produtos, a revisão apontou evidências sólidas de causar câncer em animais, além de provocar estresse oxidativo, imunossupressão, inflamação e desregulação hormonal.
Impacto direto na saúde pública e no campo
O oncologista Dr. Daniel Musse, citado na revisão, foi enfático: "Esses resultados precisam orientar políticas públicas e medidas de proteção, especialmente para trabalhadores rurais. A reclassificação reforça a necessidade de monitoramento rigoroso e revisão dos limites de segurança".
Segundo a IARC, os grupos mais expostos aos riscos são os trabalhadores da agricultura e das fábricas desses produtos, principalmente por inalação e contato direto com a pele. Para a população em geral, a exposição ocorre principalmente através do consumo de água potável contaminada e de alimentos com resíduos dessas substâncias.
Pressão sobre agências reguladoras
A nova classificação deve gerar pressão imediata sobre as agências reguladoras de diversos países, incluindo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no Brasil. A expectativa é que esses órgãos reavaliem os limites de resíduos permitidos e revisem as diretrizes para o uso agrícola dos herbicidas.
Além da atrazina e do alachlor, o fungicida vinclozolin, ainda utilizado em alguns países, foi classificado como "possivelmente carcinogênico" (Grupo 2B).
O relatório completo com todos os detalhes das análises laboratoriais, estudos epidemiológicos e mecanismos carcinogênicos será publicado no Volume 140 das Monografias da IARC, em 2026.