Mortes por câncer sobem 54% em Divinópolis; diagnóstico precoce é crucial
Câncer: mortes aumentam 54% em Divinópolis em 10 anos

Um levantamento recente do Ministério da Saúde analisado pelo Observatório de Oncologia revela um cenário preocupante para a saúde pública em Divinópolis. As mortes por câncer na cidade aumentaram 54% na última década, saltando de 246 óbitos em 2014 para 379 em 2023.

Fatores por trás do aumento alarmante

Segundo o oncologista clínico Neto Pereira, que atua no Complexo de Saúde São João de Deus e integra o serviço de Oncogenética da Acom, três elementos principais explicam esta curva ascendente: diagnóstico tardio, envelhecimento da população e estilo de vida com fatores de risco.

O médico ressalta que Divinópolis acompanha uma tendência nacional. "Os números mostram que Divinópolis está perdendo mais vidas para o câncer, mas esses dados não são uma sentença. Eles são um pedido de atenção", afirma Neto Pereira.

Envelhecimento populacional como fator determinante

O especialista explica que entre 60% e 70% dos diagnósticos de câncer acontecem em pessoas acima dos 60 anos. Com o consistente envelhecimento da população divinopolitana na última década, naturalmente aumentaram os registros da doença.

"Divinópolis envelheceu de forma consistente na última década, e o câncer é inequivocamente uma doença associada ao envelhecimento celular. À medida que mais pessoas envelhecem, aumentam também as chances de surgirem tumores", complementa o oncologista.

Homens são as principais vítimas

O estudo demonstra que os homens continuam liderando as estatísticas de mortalidade por câncer na cidade. Segundo Neto Pereira, este comportamento está relacionado tanto a hábitos quanto à menor procura por atendimento médico preventivo.

"Eles fumam mais, consomem mais álcool, têm taxas maiores de sobrepeso e realizam menos consultas preventivas. O homem normalmente chega ao consultório já com sintomas instalados e, no câncer, sintomas significativos quase sempre significam doença avançada", alerta o médico.

Tipos de câncer que mais matam em Divinópolis

Os cinco tipos de câncer com maior mortalidade no município refletem o padrão nacional:

  • Pulmão (relacionado ao tabagismo histórico)
  • Cólon e reto (associados à alimentação e estilo de vida)
  • Mama (que exige regularidade na mamografia)
  • Estômago (influenciado por infecção e hábitos alimentares)
  • Próstata (extremamente prevalente após os 60 anos)

O oncologista ressalta que "o problema do câncer de mama não é falta de diagnóstico, mas a irregularidade no acesso à mamografia. Já no de próstata, o tabu em torno da avaliação médica atrasa a investigação".

Desafios no acesso aos exames

Na avaliação da rede de saúde local, Divinópolis possui oferta de exames tanto na rede pública quanto privada, mas com diferenças importantes entre elas. Na rede pública, enquanto a mamografia está disponível, exames como colonoscopia, ressonância magnética, tomografia com contraste e algumas biópsias ainda enfrentam filas de espera.

O médico destaca avanços recentes, como a ampliação pelo Ministério da Saúde do protocolo de rastreamento do câncer de mama no SUS, mas ressalta que "essa expansão ainda está em fase de implementação, e o impacto real depende da capacidade de cada município de absorver essas mudanças e garantir acesso rápido aos exames".

Sinais de alerta que exigem atenção imediata

Neto Pereira lista sintomas que merecem investigação médica urgente:

  • Perda de peso não intencional
  • Sangue nas fezes
  • Mudança constante no hábito intestinal
  • Tosse persistente
  • Nódulos na mama
  • Sangramento vaginal após a menopausa
  • Feridas que não cicatrizam
  • Dificuldade para urinar em homens acima de 50 anos

"Esses sinais não significam necessariamente câncer, mas sempre merecem investigação. O maior erro é esperar 'melhorar sozinho'", enfatiza o especialista.

Prevenção começa nas escolhas diárias

O oncologista reforça que pequenas decisões cotidianas acumuladas ao longo dos anos têm grande impacto na prevenção do câncer. Entre as medidas mais eficazes estão:

  • Não fumar
  • Praticar atividade física regularmente
  • Moderar o consumo de álcool
  • Preferir alimentos naturais aos ultraprocessados
  • Manter peso adequado
  • Vacinar-se contra HPV e hepatite B
  • Usar protetor solar
  • Manter em dia os exames preventivos

Neto Pereira finaliza com uma mensagem de esperança: "Quando a gente escuta os sinais do corpo, quando a cidade garante acesso rápido aos exames e quando cada pessoa entende que prevenção é cuidado com a própria história, nós mudamos essa curva. Cada diagnóstico precoce não é apenas uma estatística melhor, é uma vida que continua".