As mortes por câncer em Uberlândia registraram um aumento preocupante de 23% nos últimos dez anos, conforme dados do Ministério da Saúde analisados pelo Observatório de Oncologia. A situação foi classificada como alarmante pela médica Roseane Máximo, chefe da Unidade de Oncologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia.
Cenário alarmante e fatores de risco
Segundo a especialista, o envelhecimento da população explica apenas parte do problema. Hábitos pouco saudáveis, desinformação nas redes sociais e a baixa adesão a exames preventivos completam o conjunto de fatores que elevam o risco da doença.
A pandemia de Covid-19 agravou significativamente o quadro de diagnósticos tardios. Nos últimos cinco anos, muitos pacientes chegaram aos serviços de saúde com a doença em estágio avançado por terem interrompido os exames de rotina durante o período crítico da crise sanitária.
Essa interrupção impactou diretamente nas taxas de sobrevida, especialmente em casos de tumores intestinais, onde o diagnóstico precoce é crucial para o sucesso do tratamento.
Mulheres são as mais afetadas
Os números de 2023 revelam uma disparidade significativa entre os gêneros: 455 mulheres morreram por câncer na cidade, contra 398 homens. A diferença está relacionada à prevalência de tipos mais agressivos da doença, como o câncer de mama.
Apesar das campanhas do Outubro Rosa, a cobertura de mamografias pelo Sistema Único de Saúde permanece baixa. Menos de 30% das mulheres realizam o exame pelo SUS, segundo a médica Roseane Máximo.
"A gente ainda tem que avançar muito para aqui pelo menos 80% das mulheres realizem a mamografia de rotina", afirmou a especialista em entrevista ao g1.
Mudança no perfil das pacientes e câncer mais letal
Outra tendência observada pelos especialistas é a mudança no perfil das pacientes. Mulheres mais jovens têm recebido diagnóstico de câncer de mama em fases mais precoces, mas isso não representa necessariamente um cenário positivo.
"As pacientes mais jovens hoje elas têm apresentado um diagnóstico mais precoce por conta da própria mudança do estilo de vida das mulheres. As mulheres têm hoje uma vida muito sedentária, sedentarismo, obesidade, consumo de álcool, de tabaco. O conjunto desses fatores também predispõe a um diagnóstico mais precoce", explicou Roseane.
Entre os tipos mais fatais da doença em Uberlândia, os tumores de traqueia, brônquio e pulmão lideram as estatísticas, com mais de 100 mortes registradas, representando 13,13% do total.
"É um câncer muito silencioso no início. Quando aparecem sintomas, geralmente já está avançado, com alta chance de metástase. Em 85% a 90% dos casos, o diagnóstico ocorre em estágio clínico 3 ou 4, quase sempre com tratamento paliativo", detalhou a médica.
O câncer de pulmão mantém forte associação com o tabagismo, o que frequentemente leva os pacientes a apresentarem comorbidades como hipertensão e diabetes, além das complicações crônicas do uso prolongado do cigarro.
Prevenção como principal estratégia
Atualmente, o câncer é a segunda principal causa de morte no Brasil. Estudos indicam que, se nada mudar, a doença pode se tornar a primeira causa de óbitos até 2050.
Apesar dos avanços da medicina, a especialista reforça que mudanças de comportamento podem reduzir significativamente os riscos. Ela destaca medidas essenciais para a prevenção:
- Atividade física: pode diminuir em até 20% a chance de desenvolver câncer
- Alimentação equilibrada: evitar ultraprocessados, enlatados e embutidos
- Controle do peso: a obesidade está ligada a vários tipos de câncer
A médica também alerta para a importância do acesso à informação confiável. "As redes sociais ajudam, mas também propagam conteúdos sem evidência científica. Precisamos munir a população com dados confiáveis e reforçar que, em qualquer sinal de anormalidade, deve procurar pelo médico da atenção básica, que é a nossa porta de entrada no SUS", concluiu Roseane.