O câncer vem alterando drasticamente o perfil de mortalidade no Brasil, assumindo a posição de principal causa de morte em centenas de municípios, com destaque para regiões de Minas Gerais. Dados recentes mostram uma mudança significativa no panorama da saúde pública nacional.
Panorama nacional do câncer
Segundo o Observatório de Oncologia, plataforma que monitora dados abertos na área de oncologia, o câncer já superou outras doenças como principal causa de morte em 670 municípios brasileiros. Este número representa aproximadamente 12% das cidades do país, com base em dados compilados em 2023.
Os pesquisadores responsáveis pela análise alertam que, se nenhuma mudança significativa ocorrer nas políticas públicas, o câncer deve se tornar a principal causa de morte no Brasil até 2029. Esta projeção preocupa especialistas e gestores da saúde pública.
Foco em Minas Gerais
As regiões da Zona da Mata e Campos das Vertentes concentram 15 cidades onde o câncer aparece como a doença que mais mata, superando as doenças cardiovasculares que tradicionalmente lideram as estatísticas no país.
As cidades mineiras afetadas são: Alfredo Vasconcelos, Antônio Prado de Minas, Cipotânea, Coronel Pacheco, Dores do Turvo, Ervália, Ewbank da Câmara, Guarani, Guidoval, Maripá de Minas, Orizânia, Pedra Dourada, Santana do Deserto, Simão Pereira e Viçosa.
Evolução histórica preocupante
Apesar da redução no número de municípios com câncer como principal causa de morte nas regiões da Zona da Mata e Campos das Vertentes - que caiu de 27 cidades em 2020 para 15 em 2023 -, o cenário ainda preocupa quando comparado a 2015, quando apenas 12 municípios registravam esta característica.
Um dado que chama atenção é a reincidência do problema: 13 cidades apareceram nas listas do Observatório de Oncologia por mais de uma vez entre 2015, 2020 e 2023.
Interior: novo epicentro do desafio oncológico
As 15 cidades mineiras que têm o câncer como doença que mais mata em 2023 possuem entre 1,5 mil e 20,2 mil habitantes. Este perfil se repete nacionalmente, onde quase metade das cidades com câncer como principal causa de morte tem menos de 25 mil habitantes.
A pesquisadora Nina Melo, coautora do estudo, explica que "o câncer deixou de ser um problema das capitais. Ele chegou aos interiores. Nessas regiões, o diagnóstico é tardio".
Ela destaca que "há verdadeiros desertos assistenciais fora das capitais. Faltam serviços de patologia, cirurgia oncológica e radioterapia. Muitos pacientes percorrem centenas de quilômetros para começar o tratamento - e isso reduz as chances de cura".
O contexto histórico mostra que o câncer é considerado a segunda principal causa de morte no Brasil desde 2003, tendo sido temporariamente deslocado para a terceira posição apenas em 2020, devido à pandemia de Covid-19.