Câncer lidera mortes em 670 cidades brasileiras, incluindo 3 em Campinas
Câncer é principal causa de morte em 670 cidades

Um levantamento do Observatório de Oncologia revelou uma mudança significativa no perfil de mortalidade dos brasileiros. Em 2023, o câncer se tornou a principal causa de morte entre as condições crônicas não transmissíveis em 670 municípios do país, incluindo três cidades da região de Campinas: Estiva Gerbi, Monte Alegre do Sul e Pedra Bela.

Transição epidemiológica em curso

O estudo, divulgado na sexta-feira (7), evidencia uma transição epidemiológica onde o câncer vem substituindo as doenças cardiovasculares como principal causa de óbito, especialmente nas regiões mais desenvolvidas do Brasil. A análise não considerou mortes por doenças transmissíveis, como a Covid-19.

Os números são alarmantes: as mortes por câncer no Brasil cresceram 120% entre 1998 e 2023, um ritmo 2,3 vezes mais rápido que o das doenças cardiovasculares, que aumentaram 51% no mesmo período.

Perfil dos municípios afetados

A pesquisa demonstra que essa transição não ocorre apenas nos grandes centros urbanos. Quase metade (48%) dos municípios onde o câncer lidera as mortes têm até 25 mil habitantes, perfil que inclui as três cidades da região de Campinas mencionadas no estudo.

No estado de São Paulo, 68 dos 645 municípios já registram mais mortes por câncer do que por doenças cardiovasculares, representando 11% do total. Em todo o Brasil, eram 516 cidades com essa característica em 2015, número que subiu para 670 em 2023 - um aumento de 30% em oito anos.

Concentração regional e fatores de risco

O estudo aponta forte concentração nas regiões Sul e Sudeste, que juntas respondem por 76% dos municípios onde o câncer já é a principal causa de morte entre as doenças crônicas não transmissíveis.

Nacionalmente, a doença representou 17% de todos os óbitos em 2023, enquanto no Rio Grande do Sul esse índice chegou a 22%. Entre os tipos mais letais estão o câncer de pulmão (12%), mama (8%) e próstata (7%).

Os especialistas apontam vários fatores para esse aumento:

  • Envelhecimento da população e maior exposição a mutações genéticas
  • Controle mais eficaz de doenças infecciosas e cardiovasculares
  • Maior prevalência de fatores de risco como tabagismo, obesidade e sedentarismo
  • Melhor acesso a exames diagnósticos e registros de mortalidade mais precisos

O perfil sociodemográfico das regiões Sul e Sudeste - com predominância de população branca e maior vulnerabilidade à radiação ultravioleta - também pode explicar parte da distribuição observada.

Necessidade de estratégias integradas

De acordo com o Observatório de Oncologia, o levantamento reforça a necessidade de estratégias integradas de prevenção, diagnóstico precoce e acesso oportuno ao tratamento contra os diversos tipos de câncer.

Entre as recomendações da plataforma estão o fortalecimento da rede de atenção oncológica, o cumprimento da Lei dos 60 dias - que garante início do tratamento após o diagnóstico - e o mapeamento dos fluxos de pacientes entre regiões para reduzir desigualdades na rede.

"A solução para conter essa tendência é coletiva, envolvendo gestores, profissionais de saúde, pesquisadores e a sociedade civil", informou o observatório, destacando a importância de uma abordagem multissetorial para enfrentar esse desafio de saúde pública.