Câncer lidera mortes em 10 cidades de MG e pode ser principal causa no Brasil até 2029
Câncer é principal causa de morte em 10 cidades de MG

Um paciente tocou o sino da cura no Hospital do Câncer de Divinópolis, simbolizando a vitória sobre a doença em meio a um cenário preocupante na região. Enquanto celebrações individuais acontecem, dados alarmantes revelam que o câncer já se tornou a principal causa de morte em dez municípios do Centro-Oeste mineiro.

Epidemia silenciosa no interior mineiro

As cidades onde os tumores superaram as doenças cardiovasculares como principal causa de óbito são: Abaeté, Bom Despacho, Córrego Danta, Córrego Fundo, Dores do Indaiá, Onça de Pitangui, Paineiras, Passa Tempo, Pimenta e Vargem Bonita. Esta realidade local reflete um fenômeno nacional - o câncer já é a principal causa de morte em 670 municípios brasileiros, equivalente a 12% das cidades do país.

Os números, compilados pelo Observatório de Oncologia com base em dados do Ministério da Saúde, mostram uma tendência crescente. Se nada mudar em termos de políticas públicas, o câncer deve se tornar a principal causa de morte no Brasil até 2029.

Crescimento acelerado na região

O aumento de municípios onde o câncer é a doença que mais mata no Centro-Oeste de Minas Gerais acelerou nos últimos anos. Em 2023, o número de cidades na região com essa característica cresceu 25% em relação a 2020, quando eram oito municípios, e dobrou comparado a 2015, quando apenas cinco cidades registravam o câncer como principal causa de morte.

Entre as dez cidades afetadas em 2023, apenas Córrego Fundo aparece de forma recorrente nas listas de 2015, 2020 e 2023, indicando um problema crônico no município.

Interior: novo epicentro do desafio oncológico

Das dez cidades do Centro-Oeste mineiro onde o câncer é a doença que mais mata, nove têm entre 2,1 mil e 22,6 mil habitantes. No Brasil, quase metade das cidades onde o câncer já é a principal causa de morte tem menos de 25 mil habitantes, a maioria em áreas com pouca estrutura de atendimento oncológico.

A pesquisadora Nina Melo, coautora do estudo, explica que "o câncer deixou de ser um problema das capitais. Ele chegou aos interiores. Nessas regiões, o diagnóstico é tardio". Ela destaca que "há verdadeiros desertos assistenciais fora das capitais", com falta de serviços de patologia, cirurgia oncológica e radioterapia.

O Brasil convive com o câncer como segunda principal causa de morte desde 2003. Apenas em 2020, durante a pandemia de Covid-19, a doença caiu para a terceira posição, ficando atrás das doenças cardiovasculares e das doenças infecciosas e parasitárias.

O Observatório de Oncologia, responsável pela análise, é uma plataforma online de monitoramento de dados abertos que tem como objetivo influir na tomada de decisão e no planejamento de políticas de saúde baseadas em evidências.