
Era pra ser uma luz no fim do túnel, mas virou mais uma promessa jogada na gaveta. Enquanto isso, mais de três mil pessoas — crianças, adolescentes, adultos — ficam naquele limbo desesperador de esperar por um atendimento que não chega nunca.
O tal projeto da Cidade dos Autistas, aquele que foi anunciado com pompa e circunstância, está completamente parado. Parado mesmo, sabe? Como aquela reforma na casa da gente que a gente sempre fala "ano que vem a gente faz" e nunca faz.
Números que doem na alma
A situação em Sorocaba é daquelas que dão vergonha alheia. Só na rede municipal, a fila de espera por diagnóstico e tratamento já bateu 3.069 pessoas. Três mil e sessenta e nove vidas esperando na fila. É gente pra caramba, gente que precisa de ajuda agora, não daqui a cinco anos.
E o pior? A prefeitura gasta uma mixaria com isso — menos de 1% do orçamento da Saúde vai pra área de deficiência. Parece piada de mau gosto, mas infelizmente é a pura realidade.
O projeto que virou fantasma
A Cidade dos Autistas, aquela que ia revolucionar tudo, está tão parada que até esquecem que ela existe. Orçada em R$ 12 milhões — dinheiro que não é pouco, convenhamos —, ela ia ocupar 77 mil metros quadrados no Jardim Ipanema. Ia ter de tudo: centro de diagnóstico, escola especializada, residências assistidas, até área de lazer.
Mas cadê? Onde está esse projeto? Na gaveta, meu amigo. Na gaveta mais funda da prefeitura.
E enquanto isso, na vida real...
Enquanto os papéis empilham nas mesas dos burocratas, famílias inteiras se desdobram em mil para dar o mínimo de dignidade aos seus autistas. Mães que viram terapeutas, pais que viram advogados, irmãos que viram cuidadores — todo mundo se reinventando na marra porque o poder público simplesmente não cumpre seu papel.
"Ah, mas tem o CAPS" — alguém pode dizer. Tem, sim. Só que o CAPS Infantojuvenil atende 220 pessoas por mês. Faz as contas: com mais de 3 mil na fila, quanto tempo leva pra todo mundo ser atendido? É matemática básica, e o resultado é desanimador.
Promessas, sempre promessas
A prefeitura, é claro, joga a culpa no governo anterior. Sempre é assim, não é? O atual prefeito diz que herdou o projeto "apenas no papel" e que precisa "estruturar melhor as coisas". Enquanto isso, o tempo passa e as famílias se desesperam.
O mais irônico? O projeto já tinha até previsão de ser concluído em 2026. Alguém acredita nisso ainda? Porque eu, francamente, tenho minhas dúvidas.
O que sobra é a esperança — teimosa, persistente
No meio desse cenário desolador, o que impressiona é a resistência das famílias. Elas não desistem. Brigam, cobram, se unem, criam redes de apoio informais. Fazem o que o Estado deveria fazer, mas não faz.
E a Cidade dos Autistas? Bem, ela segue sendo um sonho distante — bonito no papel, ausente na vida real. Enquanto isso, três mil pessoas continuam esperando. Esperando por dignidade, por cuidado, por um pouquinho de atenção.
No fim das contas, o que mais dói não é só a espera. É saber que a solução existe, está planejada, orçada, desenhada. Só falta, parece, a vontade política de fazer acontecer.