
Parece que Caracaraí encontrou uma solução criativa — e polêmica — para um problema que atinge muitos municípios brasileiros. A prefeita Simone Morgado acabou de sancionar uma lei que paga R$ 1 mil mensais a médicos que emitem atestados de óbito na cidade. Sim, você leu certo: um extra no contracheque só por cumprir essa parte do trabalho.
Não é todo dia que se vê uma medida dessas, né? A justificativa oficial fala em "valorizar o trabalho essencial" dos profissionais — afinal, sem esse documento, famílias ficam literalmente presas no limbo burocrático. Mas entre os bastidores, o papo é outro: muitos municípios sofrem com a falta de médicos dispostos a assumir essa tarefa, que envolve desde lidar com famílias enlutadas até preencher uma papelada interminável.
Como vai funcionar na prática?
O esquema é simples (pelo menos no papel):
- Pagamento mensal fixo, direto no bolso
- Vale para médicos de qualquer especialidade
- Exige apenas que o profissional esteja registrado no CRM
"É uma forma de reconhecer o tempo e a responsabilidade envolvidos", defendeu um assessor da prefeitura, que preferiu não se identificar. Mas nem todo mundo comprou a ideia — alguns críticos já apelidaram a lei de "bolsa-óbito", num tom que varia entre o humor ácido e a indignação genuína.
Enquanto isso, nas ruas de Caracaraí, a população parece dividida. "Se isso resolver a demora pra liberar corpos, tô dentro", diz uma moradora que perdeu três dias de trabalho esperando um atestado no ano passado. Já um enfermeiro do hospital municipal, que pediu anonimato, soltou: "Cadê meu incentivo pra trocar curativo sujo de madrugada?"
A verdade é que a medida escancara um problema maior: a falta crônica de legistas no interior do Brasil. Enquanto capitais têm institutos médicos legais, cidades como Caracaraí dependem da boa vontade — agora remunerada — de clínicos gerais, pediatras e até ginecologistas para fechar esses casos.
Resta saber se o cheiro de dinheiro vai mesmo convencer mais médicos a assumirem essa tarefa ingrata. Ou se, como diz o ditado, "dinheiro não compra paz de espírito" — especialmente quando se trata de carimbar a última página da história de alguém.