
Imagine acordar às três da madrugada só para tentar marcar um exame médico. Pois é, essa virou a rotina surreal de centenas de belo-horizontinos que dependem do Centro de Saúde São João Antônio. A situação lá beira o inacreditável.
O que era pra ser um direito básico se transformou numa verdadeira via-crúcis. Na última segunda-feira (26), a cena era digna de filme distópico: uma multidão se aglomerando desde as altas horas da noite, cada um mais desesperado que o outro por uma chance de ser atendido.
Sistema em Colapso
O problema? Simplesmente não há senhas suficientes para todo mundo. Por volta das 6h30, quando o centro finalmente abre as portas, já era tarde demais para muitos. As senhas tinham se esgotado rapidamente, deixando uma fila de pessoas frustradas e sem perspectiva.
"Cheguei aqui às 4h da manhã e mesmo assim não consegui vaga", contou uma senhora que preferiu não se identificar. A voz dela tremia de cansaço e indignação. "É desumano o que estamos passando."
Histórias que Chocam
Dona Maria das Graças, 68 anos, precisando urgentemente de um ultrassom, já perdeu as contas de quantas vezes tentou. "Parece que tô jogando na loteria, só que o prêmio é minha saúde", desabafou com aquela ironia amarga que só quem sofre na pele conhece.
Jovens, idosos, pessoas com limitações físicas... Ninguém escapa desse verdadeiro cabo de guerra por uma vaga. O que mais corta o coração é ver gente debilitada tendo que enfrentar horas de espera sob temperaturas baixíssimas.
Responsabilidade em Jogo
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte emitiu uma daquelas notas genéricas que todo mundo já cansou de ouvir. Dizem que "estudam medidas para ampliar o acesso" e "reforçar a capacidade de atendimento".
Enquanto isso, a população continua nas filas. Enquanto isso, exames importantes são adiados. Enquanto isso, vidas seguem em espera.
Uma coisa é certa: saúde não deveria ser privilégio de quem madruga ou tem sorte. Mas, pelo visto, em BH, virou questão de sorte – ou de resistência física.